Político averiguado por envolvimento em duplo homicídio ocorrido em 2023 pode se tornar vereador em São Caetano. O empresário Marcelo Camargo é o primeiro suplente de Getúlio Carvalho Filho, o Getulinho (União Brasil), que passou a ter o mandato ameaçado na Câmara após se envolver em confusão com o presidente da Casa, Carlos Humberto Seraphim (PL) – o episódio, em 8 de abril, terminou na Delegacia de Polícia.
Marcelo Camargo, que também integra o União Brasil e recebeu 1.317 votos no pleito de outubro passado, assume a cadeira do partido caso o vereador eleito, com 1.370, perca o mandato. Comenta-se nos bastidores que Getulinho pode vir a ser alvo de investigação por quebra do decoro parlamentar, o que, em última instância, pode resultar em cassação.
Camargo é averiguado pela polícia em caso de assassinato que envolve mãe e filho ocorrido em abril de 2023. O unionista é ex-sogro de Matheus Lima, morto a tiros ao lado da mãe, Margareth Lima, na Zona Leste de São Paulo. Segundo inquérito policial a que o Diário teve acesso, familiares das vítimas acreditam que o suplente de vereador tenha envolvimento nos homicídios.
Durante oitivas à época do crime, o irmão da vítima afirmou que após desavença de Matheus com a filha do unionista, este ‘mandava gente xingar e ameaçar’ o ex-genro. “O depoente afirma que as ameaças e perseguições continuaram (após a vítima deixar a concessionária do empresário, onde trabalhava) e que seu irmão Matheus chegou a bloquear o contato de várias pessoas ligadas a Marcelo, quando passaram a criar contas “fake” para o prosseguimento com as ameaças”, traz parte do documento.
Ao Diário, Marcelo Camargo afirmou que nunca foi chamado para depor durante as investigações do crime e que tem total interesse em que o inquérito chegue ao fim. Em 20 de fevereiro deste ano, última movimentação do processo, houve pedido de mais prazo para as investigações, que ainda estão em curso.
“Nunca recebi intimação nem falei nada na delegacia (sobre o assassinato), mesmo porque o que a gente sabe (é que as investigações) estão tomando outro rumo. Há outros investigados. Nunca fui ouvido no DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa da Polícia Civil do Estado de São Paulo). Por diversas vezes eu pedi (para que me ouvissem) e eles disseram que não. Tenho endereço fixo e nunca pisei na delegacia para nada. Entrei na Justiça contra todos os veículos de comunicação que postaram matéria me acusando. O processo (do homicídio) seguia em segredo de justiça, mas quando dei entrada na ação (contra as mídias) ele se tornou público”, afirmou Camargo.
O suplente de vereador em São Caetano, que atua no ramo de comércio de veículos, atribuiu seu envolvimento no inquérito a falso testemunho prestado pelo marido e pai das duas vítimas, Olegário Nazário de Lima. “Estou processando o Olegário por conta dessas calúnias”, continuou Camargo.
A equipe de reportagem entrou em contato com Olegário Nazário de Lima, que afirmou ter ciência de todo o processo. O parente das duas vítimas, todavia, falou pouco sobre o episódio: “Não posso passar detalhes do processo que porque o caso é muito complexo e exige de mim atenção na minha segurança e a do meu filho”.
Segundo Olegário, houve pedido à Justiça de dilatação do prazo das investigações, que ainda estão ainda em curso. Policiais envolvidos no caso não querem dar parecer sobre o inquérito de homicídio, que já possui 1.200 páginas e corre no 69º Distrito Policial (Teotônio Vilela) da Capital.
O CASO
Matheus e Margarete Lima foram mortos a tiros dentro do veículo da família, na Vila Industrial, na Zona Leste de São Paulo, em 11 de abril de 2023. Segundo o inquérito, quando os policiais chegaram ao local do crime, ambos já estavam mortos. Matheus foi atingido por 12 disparos e a mãe por dez. Imagens de videomonitoramento mostram que as vítimas foram seguidas pela moto com o criminoso assim que deixaram a residência, próxima ao local em que foram mortos.
Segundo investigações da polícia, Camargo e o ex-genro começaram a se desentender quando a vítima e a filha do averiguado puseram fim à união estável em que viviam. “Descobriu-se que Matheus trabalhava na concessionária do então sogro, tendo sido desligado com o término do relacionamento (...) com episódio de constrangimento por seguranças armados e intervenção de Margareth”, diz trecho do inquérito. Apurações posteriores encontraram com o suplente pistola calibre 9mm, o mesmo da arma utilizada no crime.
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