Em qualquer dose e frequência, a ingestão do álcool desencadeia mecanismos de formação do câncer. Não há consumo seguro ou sem risco. Isto foi confirmado recentemente por todos os grandes centros de estudos, controle e pesquisa sobre o câncer no mundo. São estudos livres de qualquer influência econômica e social, apesar do mercado de bebidas alcoólicas ser muito poderoso.
O álcool danifica o DNA, com mutações que interferem na divisão e crescimento normais das células, fazendo–as atípicas e bizarras, invasivas e malignas. São quatro as formas pelo qual o álcool provoca câncer.
1ª) Ao processar o álcool, o metabolismo do corpo o decompõe, gerando o acetaldeído, um composto químico carcinogênico.
2ª) O álcool promove a liberação maior de radicais livres que modificam o DNA, danificam as proteínas e os lipídeos pelo processo de estresse oxidativo.
3ª) O álcool afeta diretamente os níveis hormonais, o que aumenta o risco de câncer. Os estrógenos afetados elevam o risco de câncer de mama. O consumo moderado de álcool pode elevar os níveis de estrogênio e, ao mesmo tempo, reduzir os níveis de vitamina A, um composto que regula o estrogênio.
4ª) O uso de álcool na boca eleva em muito o risco de câncer de boca, faringe e laringe. Ele potencializa em mais de 15 a 50 vezes os efeitos do tabaco convencional ou eletrônico, pois facilita a absorção pelo corpo dos carcinógenos em abundância nas mais variadas formas de se fumar, mascar ou cheirar.
Mudar é tarefa árdua para uma pessoa, imagine se for vícios sociais enraizados. As pessoas estão acostumadas e aprendem certas pseudoverdades como se fossem absolutas. É difícil uma mudança acontecer como parar com a ingestão de bebidas alcoólicas, mas é necessário. Um amigo me disse que sem beber, não saberia o que fazer nos finais de semanas e nas horas que fica em casa “sem fazer nada”.
Os males provocados pelo álcool afeta quase todos os sistemas e o câncer representa só um deles. No câncer, ele representa a terceira causa evitável nos estadunidenses, com 100 mil novos casos por ano e 10 mil óbitos anuais. O álcool é uma das causas do câncer bucal, orofaringe, laringe, esôfago, fígado, cólon, reto, mama e pâncreas.
MAIS RESPOSTA
Não consumir álcool é a única forma segura de evitar o câncer induzido por ele. O risco de câncer pelo álcool envolve histórico genético, estilo de vida, dieta e outros fatores de saúde.
Não deveríamos consumir álcool, porque o câncer não é como loteria. Em uma loteria, não sabemos o resultado antes da premiação e no caso do câncer, já sabemos antecipadamente que a probabilidade de ocorrer é muito grande, muitas vezes maior, põe muitas vezes nisto, de ser sorteado neste tipo de jogo quando se ingere álcool.
Felizmente temos enxaguantes bucais não alcoólicos. Fazer bochechos com enxaguantes alcoólicos, significa potencializar todos os agentes carcinógenos que passam ou ficam na mucosa bucal e na orofaringe, como o tabaco em todas as formas de consumo, peróxido de hidrogênio, produtos químicos como hidrocarbonetos dos escapamentos, químicos de alimentos, herbicidas, fertilizantes e hormônios contidos em carnes consumidas.
Os enxaguantes não tem seu poder bactericida pelo seu teor alcoólico, e sim pelo agentes ativos diluídos no álcool ou em outro diluente. Qualquer produto que tenha álcool e atua na boca deve ter seu uso restrito e controlado, como xaropes, formulações, preparações caseiras de chás e bochechos, etc.
REFLEXÃO FINAL
Apenas 10% das neoplasias malignas tem uma origem hereditária ou familiar. Os demais, a cada dia que passa, sabemos as causas, mas um grande número de pessoas tem câncer sem sabermos ainda o que provocou. Se sabemos que o álcool provoca vários tipos de câncer, parece lógico pararmos de bebê-lo, ou não? Reflitamos.
Alberto Consolaro é Professor Titular pela USP e Colunista de Ciências do JC.
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