Pesquisadores do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp identificaram uma resposta imunológica protetora contra o vírus Oropouche, responsável por surtos crescentes no Brasil. O estudo foi publicado na revista eBioMedicine, do grupo The Lancet, e pode ser o primeiro passo para o desenvolvimento de vacinas e tratamentos eficazes.
Conduzido por Daniel Toledo Teixeira, no âmbito do Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes (Leve), o trabalho revelou que linfócitos B, células de defesa do sistema imunológico, são capazes de conter o avanço do vírus. “Mostramos que existem subtipos de linfócitos B que agem rapidamente para o controle da infecção. Com essa via funcionando adequadamente, há uma produção de anticorpos que impede o vírus de chegar ao sistema nervoso central”, explicou Teixeira.
Segundo o professor José Luiz Módena, coordenador do Leve, o estudo foca em um “braço da imunidade que depende de anticorpos, as imunoglobulinas, essenciais no controle da infecção”. Apesar de realizado em modelos animais, o estudo lança luz sobre mecanismos similares no corpo humano.
O vírus Oropouche, transmitido por moscas maruim, causa sintomas semelhantes aos da dengue — febre, dores no corpo, fotofobia e vermelhidão — mas pode evoluir para meningite, encefalite, aborto ou morte. Entre 2023 e 2025, mais de 25 mil casos foram registrados no país, inclusive com variantes com alta capacidade de multiplicação e evasão imunológica.
A pesquisa também aponta a molécula MyD88, presente nos linfócitos B, como chave no sucesso da defesa imunológica. “Essa molécula é fundamental para que as células produzam anticorpos potentes como IgM e IgG. Sem ela, o organismo até produz anticorpos, mas de forma ineficaz”, explicou Eduardo da Silveira, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.
Além da Unicamp e da USP, participaram do estudo pesquisadores do CNPEM, UFRR, Fiocruz Amazônia, Cardiff University (Reino Unido), University of Kentucky e Washington University in St. Louis (EUA), com apoio da Fapesp, CNPq e Welcome Trust.
O Leve também conduz pesquisas sobre os efeitos do Oropouche na gestação e no sistema nervoso, além de coordenar, desde 2023, a Rede Pampa, que monitora a relação entre desmatamento na Amazônia, atividades como mineração e a disseminação de vírus emergentes.
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