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Até 1970, médicos acreditavam que bebês não sentiam dor

Médico autor de livro conta 11 casos nos quais considera que a medicina demorou excessivamente para atualizar regras.

Até 1970, médicos acreditavam que bebês não sentiam dor
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Até meados da década de 1970, bebês eram tratados de forma cruel ao nascer, com práticas que incluíam a falta de anestesias em cirurgias e até o abandono das crianças quando se acreditava que não havia mais o que se fazer para salvá-las. Algumas práticas persistiram até a década de 1990.

No livro "Pontos Cegos", o cirurgião da Universidade John Hopkins, Marty Makary, conta 11 casos nos quais considera que a medicina demorou excessivamente para atualizar regras ou informações consolidadas. O médico assumiu a função de jornalista investigativo para a obra, publicada no Brasil pela editora Objetiva, baseando-se em estudos e em conversas com pesquisadores.

Makary é comissário do FDA (Food and Drug Administration, agência reguladora americana), nomeado pelo presidente Donald Trump no final de 2024. O livro não trata de questões polêmicas recentes com as quais o médico esteve envolvido, como a associação entre o Tylenol e o autismo, ou a não obrigatoriedade da vacinação durante a pandemia de Covid-19.

Por outro lado, o autor mostra que já foi preciso que milhares de pessoas fossem prejudicadas --ou até morressem-- para que se considerasse uma prática como errada.

O livro conta casos ocorridos nos Estados Unidos e no Reino Unido, devido ao impacto que causaram no resto do mundo. "O establishment médico estadunidense exerce enorme influência no mundo todo. Quando outros países enfrentam dúvidas quanto ao que fazer, costumam olhar para os Estados Unidos", escreve Makary.

Outros casos não saíram dos Estados Unidos, mas moldaram uma geração de americanos. Por um erro de interpretação de pesquisa, o amendoim deixou de ser consumido por milhares de crianças para prevenir alergias quando, na verdade, o consumo experimental as previne de forma mais eficaz. Como consequência, a taxa de alergia disparou.

O establishment médico

Segundo o autor, a principal causa da existência do que ele chama de pontos cegos é a arrogância do establishment médico ou o principal poder na medicina. Uma força que frequentemente prioriza o dogma, o que já está em consenso, em detrimento dos novos estudos científicos.

O autor diz que o establishment tende a resistir a novas ideias, marginalizando os inovadores por meio de rótulos pejorativos como controversos, quando deveriam ser considerados interessantes.

Um dos casos contados no livro é o do colesterol. O médico diz que a demonização da gordura saturada e do colesterol dietético são erros e a medicina e a indústria do açúcar são responsáveis por isso.

A hipótese de que o colesterol é o maior vilão cardiovascular ganhou tração na década de 1950, quando o fisiologista Ancel Keys propôs que o consumo de gordura saturada elevava o colesterol no sangue e, consequentemente, o risco de ataque cardíaco. Keys concentrou-se em demonizar a gordura saturada, embora soubesse desde 1954 que o consumo de colesterol nos alimentos ("colesterol dietético") não exercia efeito significativo sobre o nível de colesterol no sangue.

Em paralelo, o autor conta como a indústria do açúcar financiou pesquisas para desviar a culpa para a gordura, resultando no silenciamento de pesquisadores que indicavam o açúcar como o verdadeiro vetor de inflamação e doenças cardíacas.

O médico diz que pesquisadores que tentavam impor seus argumentos contra a hipótese eram proibidos de publicar seus estudos. Com isso, o dogma contribuiu para o aumento das taxas de obesidade e diabetes, visto que as pessoas substituíram a gordura natural por carboidratos processados.

Os dogmas persistem

O autor dá luz para questões que, atualmente, ainda são consenso e podem estar deixando milhares de vítimas devido à falta de movimento dos médicos. Entre eles estão risco de a fluoretação da água causar mais mal do que bem, com estudos associando-a a pontuações de QI mais baixas em crianças.

O autor questiona também o atraso no desenvolvimento de uma vacina universal contra a gripe e o risco de perda de massa muscular associado aos medicamentos GLP-1. Makary diz que, como nos outros casos, estes poderiam ser corrigidos com investimentos em pesquisas científicas rigorosas.

Pontos Cegos
Preço: R$ 79,90
Autoria: Marty Makary
Editora: Objetiva
Tradução: Cássio de Arantes Leite
Avaliação: *Bom*

FONTE/CRÉDITOS: Jcnet
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