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'Trans de direita' mira 2026, é alvo de crítica e segue Bolsonaro

Na semana passada, a influenciadora anunciou nas redes sociais sua pré-candidatura a deputada pelo Novo-SP.

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Sophia Barclay, 25, se diz convencida de uma coisa. "A direita não só vai votar em mim, como me fará a travesti mais votada do Brasil."

Na semana passada, a influenciadora anunciou nas redes sociais sua pré-candidatura a deputada pelo Novo-SP. Na foto, ela aparece com punho erguido e broche com a bandeira do Brasil no blazer.

A casa digital caiu. A publicação acumulou mais de 120 mil curtidas, mas também detonou uma enxurrada de críticas.

Sophia passou a ser acusada de incoerência por se apresentar como "trans de direita" num campo associado à oposição a direitos da população trans, como o acesso a políticas de saúde específicas, o reconhecimento da identidade de gênero e o combate à discriminação.

As reações vieram de todos os lados. Progressistas afirmaram que a direita brasileira tem histórico em renegar pessoas como ela, Sophia, o que tornaria contraditória sua aposta eleitoral nesse espectro ideológico. Setores conservadores também caíram em cima, questionando sua identidade e dizendo que ela "não representa a direita".

A maioria dos comentários negativos vem da esquerda, ironizando seu posicionamento. São pontuações na linha "devo me referir a você com quais pronomes, pelos da esquerda ou da direita?", ou a insinuação de que ela seria como uma árvore que apoia o desmatamento, uma barata a favor do inseticida.

Defensores também estão por ali. Um homem se diz "gay de direita" e simpático a uma candidatura trans com lastro conservador. Alguns seguidores sugerem que Sophia pode ser uma contraposição a Erika Hilton (PSOL-SP), que em 2022 se tornou, junto com Duda Salabert (PDT-MG), a primeira deputada trans do país.

Sophia já se referiu a Erika como uma "Shakira da Shopee" interessada em tomar o espaço de "mulheres biológicas". Uma de suas bandeiras também vai na contramão do movimento trans: criminalizar a ideia da "criança trans".

A pauta LGBTQIA+, a pré-candidata diz à Folha de S.Paulo, "foi sequestrada ideologicamente" e virou arma política. "Muitas vezes ela deixa de representar pessoas reais para servir a interesses de grupos e narrativas que não admitem divergência. Defendo direitos individuais, não militância identitária nem imposições culturais."

A influenciadora diz que sua luta "nunca foi para obrigar ninguém a pensar como eu, mas para garantir que possamos conviver em uma sociedade onde o respeito exista, mesmo nas diferenças". Quanto a Nikolas, "jovem com uma visão exemplar", quer conversar em breve com ele, "porque acredito no diálogo como ferramenta para avançar".

Sophia nasceu em Guarulhos (SP) e diz que cresceu "num ambiente familiar desestruturado, marcado por conflitos, agressões físicas e psicológicas". Saiu de casa aos 15 anos "em busca de paz e da possibilidade de ser feliz, especialmente por enfrentar perseguições dentro do próprio lar".

A transição de gênero aconteceu em 2021, durante a pandemia. Diz que para ela sempre foi claro "que a prostituição não era o único caminho possível para mulheres trans". Conta que trabalhou vendendo chips na rua, em telemarketing e, por fim, como influenciadora digital.

Na internet expôs "uma vivência dolorosa": foi vítima de abuso sexual na infância, "infelizmente desacreditada por parte da minha família materna".

A carreira política só recentemente a atraiu. Optou pela direita por crer que esse polo "oferece caminhos mais sólidos para desenvolvimento, autonomia e dignidade, sem transformar o cidadão em dependente do Estado".

A simpatia por Jair Bolsonaro (PL) veio só após a eleição de 2022, na qual votou nulo para presidente. "Estava estudando política e formando meus próprios pensamentos, sem seguir manadas ou narrativas prontas." Então optou pelo bolsonarismo.

Bolsonaro, que já disse que daria "um couro" no filho que começasse "a ficar assim meio gayzinho", e que para ele só existe "homem e mulher", virou uma bússola para Sophia Barclay. "Hoje sigo seus princípios e sua postura como referência política."

FONTE/CRÉDITOS: Jcnet
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