A ONU (Organização das Nações Unidas) enviou nos últimos dias cartas aos participantes da COP30, a sua conferência sobre clima, nas quais alerta para a alta demanda por participação no evento, cobra que as reservas de hospedagem sejam feitas o mais rápido possível e pede que as delegações dos seus órgãos internos sejam reduzidas, em razão da crise de hotéis de Belém.
A reportagem teve acesso a estes documentos, que foram enviados nos últimos dias e segmentados por grupos, como de ONGs, países ou agências das Nações Unidas.
Todos eles são assinados pelo secretário-geral da UNFCCC (o braço sobre clima das Nações Unidas), Simon Stiell, e trazem informações básicas para a conferência: sobre credenciamento, transportes, agenda e, claro, hospedagem.
No final de julho dezenas de países enviaram uma carta para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pressionando para que a conferência fosse transferida para outro lugar - e a resposta foi que não há possibilidade disso acontecer.
Procurada, a organização da conferência disse que ofereceu acomodações por até US$ 200 para os países em desenvolvimento e insulares.
A crise dos hotéis da COP30 é citada apenas na carta endereçada às agências internas da ONU, que foi revelada em reportagem do portal G1.
"Tendo em vista a limitada capacidade em Belém, nós gostaríamos de educadamente pedir para que os chefes do sistema da ONU, das agências especializadas e outras organizações relevantes revejam o tamanho de suas delegações na COP30 e reduzam a quantidade onde for possível", diz o documento.
Na carta, Stiell lembra que não há limite de tamanho para as delegações, mas pede um corte sobretudo nas credenciais extras distribuídas pelas Nações Unidas.
"A participação virtual estará disponível para todas as organizações da ONU", continua o documento.
Já no documento endereçado às organizações não governamentais, Stiell não menciona a crise de hospedagem, mas apenas que há uma "alta demanda" por participação na COP30.
"Nós encorajamos fortemente os participantes da COP a reservar sua acomodação em Belém o mais rápido possível", diz o texto.
O documento lembra que há opções "para todos os orçamentos" citando hotéis, apartamentos de aluguel por temporada e também dos navios cruzeiros -nos quais a hospedagem custa até 9 vezes mais do que em viagens de navio para o Mediterrâneo.
Em nenhum dos documentos a ONU cita a possibilidade de aumentar o valor do subsídio dado aos países para participar do evento, como pedem nações em desenvolvimento e insulares, além do próprio Brasil.
Navios em Belém
Como uma das soluções para aumentar a disponibilidade de leitos em Belém, o governo Lula contratou dois navios cruzeiros para ficarem atracados no porto de Outeiro e servirem de hospedagem durante o evento.
Passar as 17 noites da COP30 em um quarto com varanda no navio da MSC sai por R$ 9.803,46 cada diária (R$ 166,6 mil no total). Se forem oito noites, o valor é um pouco maior, R$ 13.234,67 a diária (R$ 105 mil ao todo).
Em abril, essa mesma embarcação sairá do Brasil rumo ao mar Mediterrâneo, em um pacote de viagem que também dura 17 noites. Estão incluídas todas as refeições, "com o melhor da gastronomia internacional", shows "ao estilo Broadway" e "atividades para toda a família".
Pelo site oficial da empresa, essa viagem custa pouco mais de R$ 18 mil no total, uma diária de R$ 1.069,52, no quarto individual com varanda. Ou seja, a hospedagem na COP30 por este mesmo tempo é mais de 9 vezes a travessia até a Europa.
Comentários: