Livre das condenações mais pesadas impostas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no processo da trama golpista, o tenente-coronel Mauro Cid agora pensa seu futuro fora da caserna.
Uma das possibilidades estudadas pelo militar e seus familiares é se mudar para os Estados Unidos. Seu irmão Daniel Cid e a filha mais velha do tenente-coronel moram em uma área vinícola na Califórnia.
Ele também avalia se capacitar para dar aulas e prestar consultorias sobre as Forças Armadas. Segundo um de seus interlocutores, o militar diz não ter nenhuma experiência no mundo civil e não sabe quais caminhos poderia seguir após se aposentar do Exército.
O tenente-coronel tem ainda algumas pendências a resolver com a Justiça e com o Exército antes de definir seu futuro.
Um dos entraves é a condenação a dois anos de reclusão em regime aberto. A defesa do militar entende que a pena deve ser extinta porque Cid já cumpriu dois anos e quatro meses de restrições impostas pelo Supremo, entre prisões preventivas e medidas cautelares.
Os advogados de Cid solicitaram nesta sexta-feira (12) ao ministro Alexandre de Moraes a extinção da pena. Eles dizem que está "fora de dúvida" que o militar já cumpriu tempo superior à condenação imposta pelo STF. A defesa também pediu a retirada da tornozeleira eletrônica e a restituição de bens apreendidos pela Polícia Federal.
A questão não é pacificada no Supremo, como sugere a defesa de Cid. A jurisprudência no tribunal prevê que somente o tempo de prisão preventiva é calculado na remição de pena. Medidas cautelares como obrigação de permanecer em casa à noite e aos fins de semana não servem para subtrair o tempo.
Outra pendência está no Exército. Mauro Cid protocolou um pedido para ir à reserva da Força em agosto. A solicitação é conhecida como cota compulsória -mecanismo pelo qual um militar pode deixar o serviço ativo antes do tempo mínimo previsto em lei e receber como aposentadoria um valor proporcional.
O pedido de cota compulsória, porém, não é automático. Uma comissão do Exército vai analisar toda a documentação entregue por Cid -que inclui seu histórico militar e os motivos do pedido- e vai sugerir ao Comando do Exército uma decisão para o caso.
Um interlocutor de Mauro Cid afirmou à Folha, sob reserva, que o militar entrou em contato previamente com integrantes do Comando do Exército na tentativa de garantir o aceite à cota compulsória. O Exército nega conversas nesse sentido.
Somente depois da solução dos dois impasses é que Cid terá clareza para decidir sobre o seu futuro, enquanto os demais condenados pela trama golpista têm de 16 a 27 anos de prisão pela frente.
Mauro Cid foi condenado a dois anos de reclusão por unanimidade na Primeira Turma do STF. A pena baixa é resultado do acordo de colaboração premiada firmado com a Polícia Federal.
Mauro Cid assinou o acordo de colaboração premiada com a PF em 28 de agosto de 2023. A parte quatro do contrato é dedicada aos benefícios pleiteados pelo delator.
O primeiro item diz que Cid desejava obter o "perdão judicial ou pena privativa de liberdade não superior a 2 (dois) anos".
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