O hacker Walter Delgatti Neto afirmou nesta quarta-feira (10), na Câmara dos Deputados, que invadiu sistemas de Justiça a pedido da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania) da Casa tomou depoimento do hacker no processo de cassação da deputada, cujo relator é o deputado Diego Garcia (Republicanos-PR).
Zambelli, que está presa na Itália, participou remotamente da sessão e chegou a discutir com Delgatti. A deputada o acusou de ser mitomaníaco, ou seja, mente compulsivamente.
Terminadas as oitivas, o relator tem cinco sessões para apresentar seu parecer. Após a votação do caso pela CCJ, a destituição do mandato será decidida pelo plenário da Câmara ?é preciso maioria de 257 votos para cassar a deputada.
Nesta terça-feira (9), a Mesa Diretora da Câmara autorizou que o suplente de Zambelli, deputado Missionário José Olímpio (PL-SP), alterasse a composição do gabinete. Ou seja, ele poderá demitir funcionários ligados à deputada e contratar nomes de sua preferência.
Segundo Delgatti, Zambelli pediu que ele invadisse, além do CNJ, os sistemas do STF, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e o código-fonte da urna eletrônica ?neste caso, o hacker diz ter tentado, sem sucesso.
"Ela queria que eu conseguisse comprovar que o sistema era violável. [...] Ela queria desacreditar o discurso de segurança do sistema de Justiça", disse ele, dizendo ter se arrependido. A ação ocorreu no contexto de ataques bolsonaristas às urnas eletrônicas.
O hacker afirmou que Zambelli "exerceu comando direto sobre os crimes" e lhe prometeu um emprego em troca, o que não teria sido cumprido. Ele disse ainda que emitiu uma ordem de prisão falsa contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, a pedido dela, que argumentou que ele estaria "salvando a democracia e o país".
Deputados de esquerda protestaram, argumentando que o que ocorria na sessão era uma acareação, medida que Zambelli chegou a pedir, mas que já havia sido descartada pelo relator por falta de previsão do regimento.
A defesa da deputada acusou Delgatti de ser o dono de vídeos de pornografia infantil encontrados pela Polícia Federal em seu computador, o que ele negou. Segundo o hacker, o material pode ser fruto de invasões dele a computadores alheios.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), havia dito inicialmente que a Mesa da Câmara homologaria a ordem de cassação imediatamente, mas recuou após pressão do PL e mandou o caso para análise da CCJ.
No início da sessão, o presidente da CCJ, deputado Paulo Azi (União Brasil-BA), pediu que houvesse cordialidade entre os deputados, mas a sessão foi marcada por discussões entre esquerdistas e bolsonaristas.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) questionou a decisão da CCJ de ouvir a deputada, a quem chamou de condenada e foragida. Na mesma linha, a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) afirmou que as testemunhas de Zambelli são protelatórias.
Bia Kicis (PL-DF) respondeu que as parlamentares de esquerda são contrárias ao direito de defesa e disse a Zambelli que a direita não lhe abandonou, momento em que a deputada chorou.
A deputada fugiu do país, passando pela Argentina e Estados Unidos antes de desembarcar na Itália. Depois de cerca de dois meses foragida, Zambelli foi presa na Itália, no fim de julho, e aguarda, detida em um presídio em Roma, a decisão sobre seu processo de extradição para o Brasil.
Ainda nesta quarta, a CCJ tomou o depoimento de Michel Spiero, assistente técnico da defesa da deputada, que é especialista em provas digitais. Na semana que vem, se aceitarem o convite, serão ouvidos, também por indicação da defesa de Zambelli, Eduardo Tagliaferro, ex-assessor de Moraes, e Jeffrey Chiquini, advogado de Filipe Martins. Por fim, a própria deputada será ouvida.
O assunto divide a própria bancada do PL. Enquanto alguns deputados acreditam que o relatório de Garcia será pela não cassação e que haverá votos para salvá-la, outros afirmam que, mesmo se não for extraditada, Zambelli não terá como exercer o mandato da Itália.
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