A taxa de desemprego do Brasil voltou a surpreender analistas ao ficar relativamente estável em 6,6% no trimestre até abril, abaixo das previsões do mercado financeiro, segundo dados divulgados nesta quinta (29) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O patamar é o menor para esse período de três meses na série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), que começou em 2012.
Quando a análise considera diferentes trimestres, a mínima da pesquisa é verificada até novembro de 2024 (6,1%).
Conforme o IBGE, os dados indicam um mercado de trabalho ainda forte, apesar de o país passar por um choque na taxa de juros, a Selic, que pode desacelerar a economia ao longo do ano.
Na mediana, as expectativas de analistas consultados pela agência Bloomberg apontavam uma taxa de desemprego de 6,9% até abril.
O intervalo das estimativas ia de 6,7% a 7,1%. Ou seja, o resultado divulgado pelo IBGE (6,6%) ficou levemente abaixo do piso das previsões.
A taxa mostrou relativa estabilidade ante o patamar de 6,5% registrado nos três meses até janeiro, que servem de base de comparação.
O desemprego já havia marcado 7% no trimestre encerrado em março, mas o IBGE evita a comparação direta entre intervalos com meses repetidos. É o caso dos períodos finalizados em março e abril.
Segundo William Kratochwill, analista da pesquisa do IBGE, os dados mostram um mercado de trabalho com "boa capacidade de absorção dos empregos temporários constituídos no último trimestre de 2024".
A população desempregada (7,3 milhões) ficou relativamente estável na comparação com o intervalo até janeiro, assim como o contingente ocupado com algum tipo de trabalho (103,3 milhões).
Nas estatísticas oficiais, uma pessoa de 14 anos ou mais é considerada desempregada quando não está trabalhando e segue à procura de oportunidades.
O contingente fora da força de trabalho, que inclui, por exemplo, quem desistiu de buscar emprego, ficou estável em 66,8 milhões. "O mercado de trabalho está absorvendo [os profissionais]. Segue ainda forte, resiliente", disse Kratochwill.
Emprego com carteira renova recorde
O técnico do IBGE também apontou ganhos de qualidade na forma de inserção dos trabalhadores. A fala do pesquisador foi uma referência ao número de empregados no setor privado, que avançou 0,8% ante o trimestre até janeiro, para 39,6 milhões. É o maior patamar da série histórica.
Com isso, a taxa de informalidade, que mede o percentual de informais na população ocupada, caiu de 38,3% para 37,9%.
O menor patamar da série foi verificado até junho de 2020 (36,5%), quando a pandemia expulsou principalmente os informais do mercado.
Outra variável analisada na Pnad é a renda média dos trabalhadores ocupados. No trimestre até abril, o rendimento por mês foi calculado em R$ 3.426.
Em toda a série, valores maiores do que o mais recente (R$ 3.426) só foram observados nos trimestres até março de 2025 (R$ 3.436) e até fevereiro deste ano (R$ 3.427).
De acordo com Kratochwill, o rendimento alto para os patamares históricos reflete a redução da oferta de mão de obra com o mercado aquecido.
"Quando a oferta de mão de obra começa a diminuir, há grande chance de o nível de rendimento se manter alto para que as empresas mantenham os melhores trabalhadores", disse o analista do IBGE.
"Se você [empregador] quer os melhores [profissionais], tem de contratar com melhores condições e salários", acrescentou.
Relação com PIB e juros
Os ganhos de renda são positivos para o bolso do trabalhador e tendem a ajudar o consumo, motor do PIB (Produto Interno Bruto).
Para conter os preços, o BC (Banco Central) promoveu um choque na taxa básica de juros, que chegou a 14,75% ao ano. É o maior nível em quase duas décadas.
Na visão do economista Igor Cadilhac, do PicPay, a Pnad sugere que o mercado de trabalho permanece robusto e surpreendendo as expectativas.
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