A decisão que colocou Jair Bolsonaro (PL) em prisão domiciliar ampliou a pressão bolsonarista sobre a cúpula do Congresso, que, por ora, demonstra disposição em resistir à exigência de medidas contundentes contra o STF (Supremo Tribunal Federal) e o ministro Alexandre de Moraes.
Na própria corte, por outro lado, a medida gerou indignação de parte dos magistrados. Em meio ao aumento das tensões, o Palácio do Planalto orientou integrantes do governo Lula (PT) a adotarem uma reação discreta.
A reação de bastidores na cúpula dos três Poderes ocorreu sob impacto do barulho causado por bolsonaristas na Câmara e no Senado e, como normalmente ocorre nesse tipo de situação, pode mudar com o desenrolar dos acontecimentos.
Segundo a coluna Mônica Bergamo, a ordem de prisão deixou o ministro isolado na corte, e a aposta entre integrantes do Supremo é que ele poderia reconsiderar a determinação.
Apesar disso, na avaliação de ministros ouvidos pela reportagem, há maioria na Primeira Turma para respaldar a sua decisão.
Eles afirmam que a prisão prejudicou o movimento de aliados de Bolsonaro de procurar ministros da corte para sugerir acordos em busca do apaziguamento, diante da proximidade do julgamento da trama golpista.
Apoiadores de Moraes, por outro lado, argumentam que a prisão de Bolsonaro se tornou imprescindível diante de uma série de medidas do ex-presidente e seu filho Eduardo, que indicariam uma tentativa de coagir o Supremo, com auxílio do governo Donald Trump e a instigação de seus apoiadores contra o tribunal.
No Legislativo, os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), reagiram à pressão bolsonarista por medidas mais drásticas contra o STF.
Alcolumbre, que também preside o Congresso Nacional, classificou como arbitrária a ocupação das mesas diretoras. Motta declarou que agirá para que os interesses da população não fiquem em segundo plano.
"A ocupação das mesas diretoras das Casas, que inviabiliza o seu funcionamento, constitui exercício arbitrário das próprias razões, algo inusitado e alheio aos princípios democráticos", afirmou Alcolumbre em nota.
Motta, por sua vez, reafirmou que a pauta de votações da Câmara é definida por ele junto com os líderes do partidos e defendeu que os interesses da população não fiquem em segundo lugar.
Destoando da posição pública de cardeais do centrão, o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AP) foi às redes sociais se manifestar em sentido crítico à decisão de Moraes.
"Quando o ambiente é de insegurança jurídica e instabilidade política, a economia sofre. Quem paga essa conta é o povo. Quem perde é o Brasil."
Do lado do governo, a orientação foi adotar cautela para não alimentar discurso de vitimização e de perseguição política contra Bolsonaro, além de evitar escalada da indisposição com o governo Trump em meio à implementação da sobretaxa de 50% aos produtos brasileiros.
O próprio Lula disse, durante evento nesta terça, que não queria falar de Bolsonaro.
"Acho que hoje é um dia de dar boas notícias. Vim comprometido a não falar muito da taxação, mas tenho que falar porque também, se eu não falar, vocês vão dizer: 'Por que Lula não falou? Medo do Trump?'. Também não quero falar do que aconteceu com aquele outro cidadão, que tentou dar o golpe... Quero falar é do país", declarou.
Na Câmara, por exemplo, deputados do PT e de outros partidos de esquerda confrontaram bolsonaristas que obstruíram os trabalhos legislativos.
Entre outros pontos, a esquerda diz que o protesto que visa beneficiar Bolsonaro pode prejudicar projetos como a elevação da isenção do Imposto de Renda e o pacote de socorro a setores da economia afetados pelo tarifaço de Trump.
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