O prolongado período de estiagem que o estado de São Paulo enfrenta tem levado prefeituras paulistas a decretar emergência hídrica e buscar fontes alternativas de captação ante os baixos níveis dos reservatórios.
O problema atinge também represas de hidrelétricas da bacia do Rio Grande, responsável por 25% da energia produzida no subsistema Sudeste-Centro-Oeste do país. O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) diz que monitora a situação.
Na região de Sorocaba, Mairinque obteve na terça-feira (21) outorga emergencial do governo paulista para captar água em um ribeirão ligado à represa de Itupararanga. A medida tem validade de 90 dias e busca minimizar a seca que atingiu o reservatório nos últimos meses.
A solução encontrada pela Sabesp, concessionária do município, envolveu a abertura de novos pontos de captação para reduzir oscilações na distribuição de água -em um comunicado, a companhia se desculpou com moradores por intermitências na rede. Em nota, disse que a situação já se normalizou.
Em Americana, o decreto de emergência hídrica publicado em 30 de setembro para combater problemas no abastecimento permanece vigente. O município é abastecido pelo rio Piracicaba e também enfrentou problemas na distribuição de água às residências, o que levou a cidade a lançar um projeto de combate a perdas.
O cenário de escassez ainda não foi totalmente recuperado, diz a prefeitura, mas melhorou nos últimos dias. Nesta quinta-feira (23), segundo o município, nenhuma intermitência na rede de abastecimento foi registrada.
Também editou decreto semelhante a cidade de Amparo. A gestão municipal afirma que a medida decorre "da redução de captação de água bruta e consequentemente da diminuição do volume de água potável à disposição da população" e que uma série de medidas foram adotadas para evitar o desperdício, entre as quais a proibição de lavar calçadas.
O município afirma promover investimentos recordes no sistema de saneamento e que aguarda liberação de R$ 40 milhões para construir uma Estação de Tratamento de Água.
É o caso de Bauru (SP), que enfrentava desde agosto um duro racionamento de água e viu a situação se normalizar somente após fortes chuvas na metade de outubro. O monitoramento do reservatório continua, diz a autarquia responsável pelo setor.
O período de estiagem impacta também reservatórios de hidrelétricas da bacia do Rio Grande, na divisa de São Paulo com Minas Gerais, que responde a 25% da produção hidráulica do Sudeste e Centro-Oeste. Quatro represas compõem o sistema, três das quais funcionam com volume inferior a 40%; dessas, duas estão abaixo de 30%.
O Operador Nacional, por sua vez, diz que faz monitoramento contínuo do cenário e indica, quando necessário, "ações adicionais ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico".
Afirma ainda que o principal desafio para a transição do período seco ao chuvoso "é o atendimento à ponta de carga, horário em que a demanda atinge valores elevados".
O ONS disse ainda que a diversificação da matriz energética "permite a utilização dos recursos das outras fontes disponíveis aproveitando ao máximo cada fonte" e que o Sistema Nacional Interligado tem "diversos reservatórios de regularização que permitem o armazenamento das afluências do período chuvoso para uso no período seco".
Na capital paulista e região metropolitana a situação é também delicada.
Em nota, o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que menor pressão à noite evitou o consumo de 25 bilhões de litros d'água, "volume equivalente ao consumo somado de Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá durante dois meses".
O Sistema Integrado Metropolitano, gerenciado pela Sabesp e que reúne os sete mananciais que abastecem a capital paulista e arredores, operava nesta quarta-feira (22) com 29,1% da capacidade.
O estado afirmou que atua para viabilizar investimentos estruturantes para reforçar a segurança hídrica na Grande São Paulo, incluindo novas interligações e a ampliação do Sistema Integrado Metropolitano.
Gerente nacional de águas da ONG (Organização Não Governamental) The Nature Conservancy Brasil, o biólogo Samuel Barreto diz que municípios, com apoio de demais entes federativos, devem buscar projetos de captação alternativa de forma preventiva, e não emergencial. "Não dá para ficar rezando para São Pedro quando vem a crise", afirma.
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