Na reta final do Arraiá Aéreo, tradicional evento idealizado pela Fundação AstroPontes, que será realizado nos dias 7 e 8 de junho, o senador bauruense Marcos Pontes (PL), idealizador do evento que acontece em junho, divide a agenda entre as demandas locais e as nacionais, protagonizadas no âmbito do Congresso Nacional.
Em entrevista ao JC concedida na sexta-feira (9), Pontes celebra o fato de que o Arraiá Aéreo se tornou mais do que um espetáculo aeronáutico - segundo ele, consolidou-se a proposta de aproximar ciência, tecnologia e cultura das famílias, com o objetivo de inspirar as novas gerações.
Já no cenário político, Pontes afirma que sua entrada no Poder Legislativo teve como motivação direta as dificuldades que enfrentava na pasta, sobretudo na tramitação de projetos e na obtenção de recursos.
Crítico da reeleição e defensor da redução no número de parlamentares, o senador também comenta os desafios de se discutir reformas estruturais em um ambiente político marcado, segundo ele, por polarização e interesses de curto prazo. A seguir, os principais trechos da conversa:
JC - Os preparativos ao já tradicional Arraiá Aéreo estão a pleno vapor, sobretudo por ser a décima edição. O que haverá de diferente para este ano
Marcos Pontes - De fato o evento cresceu muito, então precisa ter engrenagens funcionando. No ano passado a gente teve o encontro de motociclistas, que ocorrerá a cada biênio, e neste ano o evento contará com uma competição de bandas marciais [grupo de músicos instrumentais que geralmente apresentam-se ao ar livre e incorporam movimentos corporais]. Teremos a banca julgadora, que vai analisar cada apresentação, e as inscrições a quem quiser participar dessa disputa vão até 20 de maio.
A esquadrilha da fumaça ainda não confirmou, mas nós estamos no calendário oficial da deles. E tem as outras modalidades de aviação, como aviação de paraquedismo e o avião da Marinha. Estamos conversando sobre tudo isso.
A novidade deste ano é o Gúnar [Armin Halboth], piloto famoso da aviação civil do Brasil que pilota o avião de hélice mais rápido do mundo. A aeronave foi projetada em Minas Gerais, na Universidade Federal.
O ponto importante a ressaltar desses 10 anos é que a parte aérea é quase um complemento do verdadeiro espírito do evento, que é incentivar, motivar as gerações.
JC - São 10 edições de Arraiá. Como é olhar para trás?
Marcos Pontes - Ele surgiu em 2016, quando minha missão completou 10 anos. Na época, disse a amigos que poderíamos nos organizar para trazer pilotos a Bauru, conversar sobre segurança de voo, prevenção de acidentes, fazer um churrasco. Aí em vez de virem uns 10 pilotos, como imaginamos, veio um monte. Daí veio o Arraiá Aéreo.
Logo ao início eu pensei que, além dos aviões, deveríamos colocar cultura no meio do evento. Trazer ciência, tecnologia, colocar essas coisas para ser um evento direcionado à família, multidisciplinar. Isso é o mais legal dessa trajetória, que cresceu graças à ajuda de muitos voluntários.
JC - O sr. já tem dois anos consolidados como senador. O que já é possível concluir desse biênio?
Marcos Pontes - Eu era ministro de Ciência, Tecnologia e Comunicações. E via no Executivo as dificuldades que a gente tinha no Legislativo com projetos que não andavam. Para piorar, ainda tínhamos que brigar para ter um bom orçamento do Ministério. Foi quando falaram que tínhamos de ter alguém no Congresso para defender o setor
Eu não sou político de carreira, daqueles que têm figuras políticas no avô, no pai. Eu já sabia que ia enfrentar dificuldades, até porque muitos políticos entram já pensando na reeleição, o que é ruim. Aliás, a gente tem agora uma possibilidade de acabar com a reeleição. Mas é difícil.
JC - Isso está previsto na reforma eleitoral, né? O sr. vê chances de passar?
Marcos Pontes - É complicado mexer com reeleição. Quando se fala na reeleição, isso gera muito mais discussão do que se a gente tratasse da economia para melhorar a vida das pessoas, por exemplo. Ninguém discute planos a longo prazo.
Isso não é bom. A pessoa que entra tem ali quatro anos. No primeiro tenta se ajeitar. No segundo começa a fazer alguma coisa efetiva e, no terceiro, já prioriza coisas à eleição. No quarto ninguém faz mais nada. E quem paga somos nós, os contribuintes.
Eu particularmente espero que passe [o fim da reeleição] e a gente consiga colocar cinco anos de mandato. Aumenta um pouco, mas não prevê mais o instituto reeleição, o que seria muito bom.
JC - A Câmara recentemente aprovou o aumento nas cadeiras para deputado federal a um custo de R$ 65 milhões ao ano. Como o sr. vê a medida?
Marcos Pontes - Sou contra. Na verdade, por mim a gente aprovaria um projeto do senador [Eduardo] Girão que reduz a dois o número de senadores por estado. Ele também sugere a redução na Câmara para 300 deputados, algo com que concordo. A gente não tem nem as 513 cadeiras [número de deputados] dentro do plenário da Câmara. Isto é: se todo mundo for sentar lá não cabe. Se o aumento nos deputados fosse acompanhado de maior eficiência no serviço público, aí sim teríamos motivo. Mas não é o que acontece.
O Brasil gasta 0,55% do PIB com o Congresso. Parece pouco, mas é metade do que a gente investe com pesquisa e desenvolvimento no País todo, somados os setores público e privado. Ninguém pensa em aumentar isso. Por quê?
JC - Eventual discussão sobre redução no número de cadeiras passa também por uma reforma administrativa, não acha? O governo Bolsonaro chegou a cogitar algo nesse sentido, a PEC do Pacto Federativo, que extinguiria municípios com menos de 5 mil habitantes. O Brasil deveria retomar essa discussão?
Marcos Pontes - Isso é urgente, essencial. Até porque envolve uma redução de custos. Em geral os governos não gostam de discutir reforma administrativa. Ainda mais agora, que a gente está chegando perto de eleição. E de novo o problema da tal reeleição.
JC - O sr. não acha que a discussão já foi mais civilizada? Quer dizer, o Brasil já teve uma oposição que se propunha a melhorar projetos que considerava ruins. Perdeu-se a capacidade de se trabalhar em conjunto?
Marcos Pontes - Olha, a polarização não é uma coisa boa. Eu não gosto dessa onda. Porque fica assim nesse "nós contra eles" o tempo todo. E a gente tinha de ser "nós e eles pelo Brasil". Deveria ser assim.
Eu sou um senador de oposição e faço a oposição da maneira como acho que tem que ser feita. Você não vai ver eu xingando uma pessoa, por exemplo, eu não faço esse tipo de coisa. Agora, o que as pessoas fazem de errado dentro do governo tem que ser falado, claro.
As pautas mais ideológicas não tem como, vai ter embate. Mas nas demais, o diálogo é importante. Eu respeito qualquer opinião. Posso discordar de você em alguma coisa, mas te respeito.
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