A crença de que certas plantas afastam escorpiões é popular em muitas regiões do Brasil. Mas, segundo o tecnologista Paulo Goldoni, do Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan, trata-se de um mito. "Não há nenhuma comprovação científica", afirma.
De acordo com o especialista, nenhum vegetal - seja flor, fruto ou folha - tem efeito repelente contra escorpiões. "Se isso fosse verdade, esses animais evitariam qualquer ambiente com vegetação. Mas eles vivem normalmente em áreas de mata, junto a diferentes tipos de plantas", explica ele ao UOL.
Além de não funcionarem como repelentes, certas plantas podem piorar o problema. "O maior risco é servir de esconderijo. A vegetação pode ser usada como abrigo e até como caminho para que o animal chegue a locais onde normalmente não estaria", alerta Goldoni.
Escorpiões nas cidades
Dados do Instituto Butantan mostram que os acidentes com escorpiões aumentaram nos últimos anos. Em São Paulo, foram 24,2 mil casos até julho de 2023 - 13% a mais que no mesmo período de 2022.
Segundo o órgão, a expansão urbana e as altas temperaturas favorecem o aparecimento do aracnídeo nas cidades. Eles buscam locais quentes e úmidos, com alimento (principalmente baratas), água, abrigo e acesso. Entulhos, lixo e redes de esgoto são alguns dos pontos preferidos.
Como realmente prevenir
Goldoni reforça que confiar em plantas como método de prevenção é perigoso e ineficaz. "O uso de vegetais como barreira compromete outras medidas profiláticas mais eficientes", diz.
O Butantan recomenda ações como:
- Manter quintais e jardins limpos, sem entulho ou folhas secas;
- Vedar ralos, portas e frestas;
- Usar telas em janelas;
- Não deixar roupas ou calçados no chão sem proteção;
- Evitar que plantas encostem em muros e paredes.
Galinhas são eficientes?
Outra crença popular é de que criar galinhas afasta escorpiões. É verdade que elas comem o animal, mas o método é ineficiente. "As galinhas são diurnas, e os escorpiões, noturnos. Eles quase não se encontram", disse Denise Maria Candido, bióloga do Biotério de Artrópodes do Butantan, em reportagem do próprio Instituto.
Criar aves em áreas urbanas sem autorização é proibido, alerta a especialista. Além disso, pode trazer riscos de saúde pública, como a transmissão da leishmaniose.
O que fazer em caso de picada?
Após uma picada, o Butantan orienta lavar o local com água e sabão, aplicar compressa de água quente para aliviar a dor e procurar atendimento médico imediato. Apenas um profissional pode avaliar a gravidade e indicar o uso de soro.
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