José “Pepe” Mujica, ex-guerrilheiro, preso político por 14 anos e presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, morreu nesta terça-feira (13) aos 89 anos. Conhecido por sua vida simples e honestidade inabalável, ele enfrentava um câncer avançado desde abril de 2024.
Filho de família de classe média, Mujica nasceu em 20 de maio de 1935 e cedo se engajou nas lutas populares. Nos anos 1960, passou a integrar os Tupamaros, grupo que, inspirado pela revolução cubana, combinava ações de guerrilha com distribuição de recursos a comunidades carentes. Capturado pela ditadura militar, viveu 14 anos atrás das grades, muitas vezes em solitária e submetido a torturas, sobrevivendo a quatro fugas e a vários ferimentos.
Anistiado em 1985, construiu carreira política sólida: deputado, senador e ministro da Agricultura, até sua eleição à Presidência em 2010. Em cinco anos no cargo, elevou o gasto social de 61% para 75% do orçamento, aumentou em 250% o salário mínimo e promoveu a legalização da maconha, decisão inédita na região.
Apesar dos poderes do governo, Mujica manteve o mesmo Fusca 1987, morava em sua modesta chácara e doava quase todo o salário oficial. Em 2012, durante entrevista à BBC em sua casa, surpreendeu os repórteres ao convidá-los a um copo de uísque, ele mesmo contou ter lavado os copos e servido generosamente o drinque antes de rebater o rótulo de “presidente pobre”: “Pobres são quem quer sempre mais, sem aproveitar a vida.”
Sua franqueza e simplicidade conquistaram admiradores mundo afora, de movimentos sociais a prêmios internacionais. Em 2012, seu discurso contra o consumismo na Rio+20 viralizou, e ele foi incluído pela revista Time entre as 100 personalidades mais influentes de 2013.
Em abril de 2024, anunciou um câncer no esôfago em estágio avançado e revelou ainda sofrer de doença imunológica que atingia os rins. Afastou-se do Senado em 2020 e passou os últimos anos cuidando de hortas e projetos sociais.
O atual presidente uruguaio, Yamandú Orsi, afirmou: “Perdemos um gigante e um amigo do povo”. Mujica deixa a esposa, Lucía Topolansky, colega de guerrilha e ex-vice-presidente, e um legado de honestidade, coerência política e amor à simplicidade.
*Com informações da BBC e G1
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