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Filhote de rolinha-do-planalto nasce pela 1ª vez em cativeiro

Reprodução da rolinha-do-planalto faz parte de uma iniciativa para tentar a garantir a sobrevivência da espécie, que está quase extinta na natureza

Filhote de rolinha-do-planalto nasce pela 1ª vez em cativeiro
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Um filhote de rolinha-do-planalto, ave que só existe no cerrado brasileiro, nasceu em cativeiro pela primeira vez na história. A reprodução sob cuidados humanos faz parte de uma iniciativa para tentar a garantir a sobrevivência da espécie, que está quase extinta na natureza.

O nascimento aconteceu no último dia 12, no Parque das Aves, em Foz do Iguaçu (PR), fruto de uma parceria de longa data do zoológico com a organização ambientalista Save Brasil e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

Conhecida desde o início do século 19, a espécie tem vibrantes olhos cor de safira, combinando com os pontos azuis que exibe em meio à plumagem castanha e é ligeiramente menor do que a rolinha-caldo-de-feijão, comumente vista em quintais e jardins pelo país.

Escondida na paisagem, foi através de seu canto que o ornitólogo Rafael Bessa a redescobriu em Botumirim (MG), em 2015, depois de passar mais de 70 anos desaparecida (há relatos de um avistamento no final da década de 1980, mas não foram registradas imagens para comprovação).

Foram postas em prática, então, iniciativas tentar proteger a espécie. "No começo de 2017, nós conseguimos comprar uma área de 600 hectares onde estavam a maior parte das rolinhas e criamos uma reserva", conta o biólogo Pedro Develey, diretor-executivo da Save Brasil.

No ano seguinte, uma área muito maior, de quase 36 mil hectares, sobreposta à reserva privada, se tornou o Parque Estadual de Botumirim ?abrigando um trecho da Serra do Espinhaço, reconhecida por sua importância para a biodiversidade.

A pequena população encontrada na região é a única conhecida na natureza e, segundo estimativas do Save Brasil, tem no máximo 20 indivíduos, sendo considerada criticamente ameaçada de extinção.

Develey explica que, a partir da proteção da área, foi possível estudar mais o animal, que até então só se conhecia por amostras de museus.

"Quando passamos a entender mais da ecologia e da biologia do bicho ?a vocalização, o habitat que ele gosta? fizemos expedições procurando [mais indivíduos] em várias outras áreas de ambiente parecido e não achamos. E nem nenhum outro ornitólogo ou observador de aves, ninguém achou. Ela continua só lá", diz.

As sementes de uma gramínea típica estão entre as suas favoritas. Na época das chuvas na região, elas acabam caindo em poças d'água que se formam no chão. A água, então, amolece a semente, o que facilita a digestão da rolinha.

O bioma, porém, é extremamente ameaçado pela ação humana, principalmente pelo avanço do agronegócio e grandes empreendimentos. Segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), nos dez anos desde a redescoberta da espécie, mais de 85,6 mil km² de cerrado foram desmatados ?6.299 km² só em Minas Gerais, uma área maior do que o Distrito Federal.

Com isso, em 2023 e 2024, após cuidadosos estudos e autorização do ICMBio, alguns ovos encontrados em Botumirim foram levados para o Parque das Aves para dar início à chamada população de segurança. Destes ovos, nasceram a fêmea e o macho que geraram o filhote nascido no mês passado, um feito inédito.

"O fato de a reprodução em cativeiro ter sido bem-sucedida pela primeira vez na história é um passo importante para a espécie e para o domínio do manejo, que é essencial em programas de cativeiro de longo prazo", analisa o ornitólogo Luís Fábio Silveira, curador da seção de aves do Museu de Zoologia da USP (Universidade de São Paulo), que não está envolvido no projeto.

"O piso deste recinto é todo aquecido para proporcionar o calor e o conforto necessário para a espécie", diz Paloma Bosso, diretora técnica do Parque das Aves.

"Também trouxemos alguns exemplares da vegetação da região de Botumirim para cá, assim como uma areia branca, bem fina, como a que existe no ambiente dela, para trazer a qualidade necessária e criar um ambiente próprio para as rolinhas."

"A gente não sabia qual era a dieta, como cuidar ?e não só a gente não sabia como ninguém no mundo sabia", ressalta Bosso.

"Nos primeiros dias de nascimento, era preciso alimentar o filhote sete vezes ao dia, das 6h da manhã às 18h. Durante o período noturno, ninguém ficava acompanhando pessoalmente, mas tem câmeras dentro da incubadora e eu fico em casa, olhando para ver se está tudo bem, tipo o Big Brother da rolinha", conta, rindo.

"É necessário que mais indivíduos sejam incorporados ao programa de cativeiro para garantir a variabilidade genética ao longo do tempo, pois a situação da espécie na natureza é muito crítica e o papel dos zoológicos será fundamental para que a espécie não seja extinta", observa Luís Silveira.

Pedro Develey destaca que "projetos de conservação são muito difíceis". "Conservar espécies muito raras é sempre um desafio. Mas o exemplo da rolinha-do-planalto é um em que as coisas estão dando certo, e isso dá muita esperança", afirma.

FONTE/CRÉDITOS: Jcnet
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