A prisão na noite desta terça-feira (22) do suspeito de planejar uma série de ataques a ônibus em cidades da região metropolitana de São Paulo colocou pela primeira vez autoridades policiais do estado diante de um elemento que pode efetivamente ser uma peça importante para explicar ao menos uma parte da onda de depredações iniciada no mês passado.
Importantes cidades paulistas enfrentam uma onda de vandalismo contra ônibus. Somente na capital, o número de coletivos depredados passa de 500, conforme contagem da SPTrans, empresa ligada à prefeitura de Ricardo Nunes (MDB) que controla o serviço no município. A polícia não confirma o número.
Isso não elimina outras linhas de investigação que, segundo a Polícia Civil, ainda está em fase inicial. Veja abaixo o que se sabe sobre os ataques.
Suspeito preso
Campolongo é motorista concursado da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) há 30 anos e no último ano trabalha para um chefe de gabinete do órgão sob o comando da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Intimado, o suspeito compareceu à sede do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) em São Bernardo do Campo, e confrontado com imagens que comprovavam sua presença nas cenas de alguns crimes, ele confessou ter planejado e executado ao menos 18 ataques. Autoridades apresentaram números divergentes sobre a quantidade de atentados praticados por Campolongo.
O suspeito colaborou com as investigações e desde a última semana havia prestado ao menos dois depoimentos, além de conduzir policiais à sua residência e local de trabalho, onde em seu armário foram encontrados estilingue e pequenas esferas de metal supostamente utilizadas para atingir os veículos.
Motivação política
Campolongo alegou motivações políticas ao confessar os crimes, segundo a polícia. Ao ser interrogado, ele teria afirmado que sua intenção era mobilizar pessoas para mudar o país, segundo o delegado Júlio César de Almeida Teixeira, responsável pela investigação conduzida pelo Deic de São Bernardo do Campo.
Teixeira também contou que o suspeito negou ser filiado a partido ou organização política e que comentou estar arrependido dos atos.
Também há publicações apoiando declarações atribuídas a integrantes do governo do presidente americano Donald Trump contra Lula (PT).
Recrutamento para ataques
O suspeito preso confessou ter recrutado o irmão dele, o desempregado Sérgio Aparecido Campolongo, 56, para realizar alguns dos ataques, dizem os investigadores. A Justiça aceitou o pedido de prisão preventiva de Sérgio, mas até as 22h desta terça ele ainda não havia sido capturado.
Lobos solitários e efeito manada
Os irmãos Campolongo se diferenciam dos demais casos identificados porque eles são os únicos suspeitos de estarem presentes em diversas cenas em que ônibus foram atacados.
Outros ataques, considerando depoimentos de mais de 20 suspeitos identificados, podem ter sido praticados por "lobos solitários", conforme descreveu o secretário-executivo de Segurança Pública, Osvaldo Nico Gonçalves. Seriam pessoas que viram o noticiário sobre as depredações contra o transporte e resolveram imitar as ações porque, nas palavras de Gonçalves, "está na moda".
Gonçalves afirmou que não é possível atrelar ataques realizados por outros autores às mesmas motivações confessadas por Campelo.
Outras linhas de investigação
A identificação dos responsáveis por ataques em série não elimina outras linhas de investigação sobre autoria e motivação dos crimes.
Uma das pessoas envolvidas na investigação, porém, disse à Folha que o suspeito preso pode efetivamente ser responsável por um grande número de ataques e, nessa linha, seria uma peça importante na geração de um possível efeito manada.
Somente na última quinta-feira (17), o suspeito teria participado de 16 ataques.
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