O delegado da Polícia Federal responsável por investigações sobre suspeitas de um esquema de venda e vazamentos de decisões judiciais no STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu deixar o caso, alegando motivos pessoais.
Marco Bontempo comunicou aos chefes em setembro que não ficaria mais à frente da operação Sisamnes, que envolve diversas investigações sobre o tema. Segundo relatos feitos à Folha de S.Paulo, o delegado teve um esgotamento físico e mental resultado de estresse.
Os inquéritos são sensíveis e já citaram decisões e gabinetes de ao menos 9 dos 33 integrantes do Superior Tribunal de Justiça. Por ora, nenhum ministro é investigado pela venda de decisões e pelos vazamentos.
A Polícia Federal ainda não escolheu o delegado que vai assumir a investigação. O caso está sob responsabilidade da Coordenação de Inquéritos nos Tribunais Superiores, área subordinada à Direção de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção.
A investigação sobre gabinetes de ministros do STJ foi um desdobramento da morte do advogado Roberto Zampieri em Cuiabá (MT), ocorrida no fim de 2023. A apuração sobre o assassinato encontrou no celular da vítima conversas suspeitas entre ele e o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves.
As mensagens mostravam pagamentos entre empresários, desembargadores de Mato Grosso e servidores do STJ.
A investigação revelou intrincada suspeita de venda de decisões. Andreson era contratado por empresários interessados em processos na Justiça e, nos tribunais, fazia lobby com desembargadores e servidores para atender seus interesses.
A Polícia Federal encontrou nos arquivos apreendidos na Operação Sisamnes minutas de votos de ministros do STJ.
As suspeitas estão restritas a funcionários lotados em gabinetes de ministros. Apesar da crise que a investigação instaurou, o tribunal exonerou, até o momento, apenas um servidor.
Segundo a Polícia Federal, Pinto enviava as minutas das decisões para o lobista e, em troca, recebia dinheiro do esquema criminoso por meio de uma empresa criada em nome de sua esposa.
Ao longo do tempo, a investigação passou a envolver diversas outras suspeitas em tribunais pelo país, e até sobre um grupo denominado C4, que significa "Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos".
Na última sexta (3), a Polícia Federal realizou nova operação de busca e apreensão na casa do lobista Andreson Gonçalves. O objetivo era descobrir se o investigado estava descumprindo medidas cautelares.
A PF também prendeu o sargento da PM aposentado Dejair Silvestre dos Santos, que segundo pessoas próximas fazia serviço de segurança particular para Andreson. Pessoas que acompanham a apuração disseram que ele tentou esconder um celular, e foi preso por obstrução de Justiça.
Segundo sua defesa, o lobista passou por uma cirurgia em 2020 que envolve a retirada de parte do intestino. O procedimento afeta a digestão de alimentos. A prisão domiciliar foi autorizada por Cristiano Zanin.
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