Após a repercussão de um vídeo de quase 50 minutos em que o youtuber Felipe Bressanim Pereira, o Felca, expõe casos exploração sexual de crianças e adolescentes (veja em https://www.youtube.com/watch?v=FpsCzFGL1LE&t=29s&ab_channel=Felca), a delegada Lisandréa Salvariego, responsável pelo Noad (Núcleo de Observação e Análise Digital) da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, afirmou que há uma banalização crescente da superexposição infantil nas redes sociais.
"Crianças não precisam ser expostas para que se sintam 'aceitas'. A adultização está causando um estrago enorme na formação delas", disse a delegada, que coordena o núcleo responsável por monitorar grupos de ódio e crimes digitais.
Como mostrou reportagem da Folha de S.Paulo em março deste ano, a polícia tem recorrido a agentes infiltrados para combater a onda de violência online entre crianças e adolescentes.
Entre eles, são citados os canais Bel para Meninas, Caroliny Dreher e o do influenciador Hytalo Santos, que faz conteúdos com adolescentes em suas redes sociais.
Nos vídeos, Hytalo realiza dinâmicas e desafios entre jovens, mas também os filma em situações em que eles aparecem adultizados.
Há gravações em que Hytalo anuncia a gravidez de adolescentes que vivem com ele, conta aos seguidores que elas vão realizar cirurgias plásticas, como lipoaspiração e implante de silicone, e mostra os resultados dos procedimentos. Há, ainda, trechos em que ele filma adolescentes dormindo com poucas roupas, dançando de forma erótica e em ambientes com bebida alcoólica presente.
Hytalo é investigado pelo Ministério Público da Paraíba desde dezembro de 2024 por suspeita de exploração de crianças e adolescentes e por trabalho infantil. Ele nega as acusações e afirma que ele e os jovens formam uma família não tradicional.
A delegada Lisandréa orienta que responsáveis não exibam crianças em trajes de banho, fazendo dancinha ou mantendo algum comportamento adulto. "Mesmo que sua rede seja fechada, não exiba. Hoje, esse tipo de conteúdo está na superfície [da internet], de fácil acesso", afirma ela.
Além do vídeo, Felca também ingressou com um processo em que denuncia 200 contas do Twitter. Isso porque, enquanto investigava casos de exploração, foi chamado de pedófilo pelos usuários da plataforma.
Nas redes sociais, João de Sezi, advogado de Felca, afirma que esse é apenas o terceiro processo de uma série. "Outros já foram julgados, vários sigilos já foram quebrados", diz. O influenciador ainda deixou a possibilidade de acordo com os donos das contas, caso o usuário faça uma doação de R$ 250 para uma instituição de proteção de infância e combate a exploração infantil.
Alguns dos conteúdos são publicados com a hashtag e fotos de pratos de comida, conforme constatado pela reportagem. Nos comentários desses posts, outros membros publicam links que redirecionam para grupos do Telegram e sites com imagens e vídeos de exploração sexual infantil.
Muitas vezes o usuário é redirecionado para sites em que, sem necessidade de cadastro, já é possível ter acesso a fotos de crianças exploradas sexualmente.
Para burlar ferramentas de segurança da plataforma, os usuários costumam misturar emojis ou números no meio da URL e orientam os usuários sobre como proceder para acessar o conteúdo criminoso.
Um relatório produzido pelas pesquisadoras Beatriz Lemos, Letícia Oliveira e Tatiana Azevedo, em maio 2023, destrincha como criminosos criam contas com a única finalidade de divulgar um anúncio.
Assim, as contas criam mensagens com palavras-chaves relacionadas ao assunto ou hashtags de interesse e ficam à espera de um contato. Os interessados usam a ferramenta de busca do Twitter para encontrar os anúncios, digitando essas palavras e hashtags. Esse mesmo método é usado para os interessados em intercâmbio ou venda do material.
A troca e a venda de material acontecem de formas diferentes. Alguns, trocam mensagens privados no próprio Twitter. Enquanto isso, outros fornecem seu contato no Telegram ou Discord. Também é comum a indicação de links e QR Codes, em que o usuário é redirecionado para outros sites que hospedam o conteúdo criminoso.
"É essencial que governos e empresas de tecnologia trabalhem em conjunto para desenvolver regulamentações mais rígidas e soluções tecnológicas eficazes", conclui o relatório.
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