O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), avisou Jair Bolsonaro (PL) que adotaria o discurso de defesa da economia de seu estado - e não a anistia aos bolsonaristas - diante da imposição da sobretaxa de 50% aos produtos brasileiros por Donald Trump.
O aviso foi dado na tarde de quinta-feira (10), em uma reunião fechada na sede da representação do governo paulista em Brasília.
Tarcísio é cotado para disputar a Presidência no ano que vem, embora diga que tentará a reeleição em São Paulo. Trump associou a medida a críticas ao tratamento dado a Bolsonaro pelo Brasil, em especial sobre o julgamento do ex-presidente no STF (Supremo Tribunal Federal) em torno da trama golpista de 2022.
Uma pessoa próxima ao ex-presidente, contudo, disse que ele saiu contrariado da reunião. No mesmo dia, em nota nas redes sociais, Bolsonaro nem entrou no mérito do tarifaço e pediu urgência aos Poderes para que atendessem exigências de Trump que o beneficiariam no julgamento.
Trump é aliado de Bolsonaro, padrinho político de Tarcísio, que por sua vez é fã do presidente dos EUA, tendo até posado com um boné do republicano após as eleições americanas, algo que tem sido explorado por aliados do Palácio do Planalto diante da atual crise.
O prejuízo econômico das medidas adotadas por Trump, estimado em bilhões de reais, escancarou o racha no bolsonarismo e colocou Tarcísio em embate direto com o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
O filho do ex-presidente celebra o tarifaço e espera que ele seja usado como arma para pressionar o Congresso a aprovar a anistia às pessoas ligadas à tentativa de golpe, incluindo o próprio Bolsonaro. O senador Flávio Bolsonaro adotou linha semelhante ao cobrar anistia para solucionar o tarifaço.
Eduardo se auto-exilou nos Estados Unidos com a promessa de articular sanções ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, e agora tem enaltecido o tarifaço de Trump. Já Tarcísio afirma, como fez em entrevista neste sábado (12), que as tarifas são ruins para a economia paulista e que é preciso "deixar a questão política de lado e tentar resolver essa questão".
A conversa entre Tarcísio e Bolsonaro ocorreu menos de 24 horas após o anúncio das sanções do presidente norte-americano.
Naquela tarde, ambos postaram o mesmo vídeo, cada um em suas redes sociais, pouco antes de a reunião começar. As imagens mostravam os dois chegando juntos a um restaurante em Brasília, abraçando apoiadores e sorrindo.
Tarcísio decidiu comunicar Bolsonaro pessoalmente de sua decisão após sentir pressões de empresários, do setor agrícola e de aliados --que avaliaram como nulas as chances de um projeto de anistia prosperar com base em ameaças à soberania nacional feitas por Trump.
Após a conversa, o governador iniciou uma série de movimentações para enfrentar as medidas norte-americanas, conforme a Folha mostrou.
Os dois voltaram a conversar após essas ações, o que foi interpretado por integrantes do Palácio dos Bandeirantes como sinal de que Bolsonaro não desautorizou a movimentação do aliado.
Este não é o primeiro episódio em que padrinho e afilhado discordam em questões políticas. Um exemplo anterior foi o apoio à reeleição do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), no ano passado.
O vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL), outro filho do ex-presidente e encarregado de suas redes sociais, publicou um texto parabenizando o governador pela articulação direta com os Estados Unidos, em contraponto ao irmão mais novo.
As ações de Tarcísio representam uma rápida correção de rota diante da crise.
Na ocasião, a expectativa era que as eventuais sanções articuladas por Eduardo atingissem apenas o ministro Alexandre de Moraes.
Quando a sobretaxa de 50% foi anunciada para todos os produtos brasileiros, Tarcísio inicialmente manteve a temperatura política alta, culpando Lula pela medida.
Neste sábado, Tarcísio despolitizou totalmente o assunto. Em entrevista em Cerquilho, no interior paulista, disse que "a gente precisa estar de mãos dadas agora, deixar a questão política de lado e tentar resolver essa questão" e que falar em anistia, neste momento, era uma "questão de opinião".
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