Pesquisadores da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba) desenvolveram um método rápido para identificação do metanol em bebidas alcoólicas. A substância pode ser percebida por meio de um equipamento que emite luz infravermelha sobre a garrafa, mesmo que ela esteja lacrada.
A luz provoca uma agitação nas moléculas. Em seguida, um software recolhe os dados, interpreta as informações e identifica qualquer substância que não faz parte da composição original da bebida, desde o metanol até a adição de água, para fazer o produto render mais.
A divulgação da pesquisa acontece no momento em que o Brasil tem uma escalada de casos suspeitos de intoxicação por metanol. Até esta segunda-feira (6), eram 200 casos sob investigação e 17 casos confirmados, incluindo 2 mortes e outras 13 em investigação, de acordo com o Ministério da Saúde.
Dois artigos científicos sobre o método foram publicados na revista "Food Chemistry", uma das principais voltadas à área de química e bioquímica dos alimentos.
O método começou a ser desenvolvido em 2023, antes do atual cenário, e detecta adulterações em poucos minutos, sem produtos químicos. A pesquisa detectou uma classificação de 97%.
"Foi uma coincidência, porque tivemos esse montante de casos. Essa pesquisa já foi publicada. Criamos um modelo para ler esses contaminantes. Pegamos 464 amostras de cachaça, fizemos a leitura dessas amostras não contaminadas e, de forma proposital, contaminamos depois para identificar com metanol, água e o etanol veicular", explica o professor Felix Brito, do programa de pós-graduação em Ciências Agrárias.
"Se tiver contaminada com água, dá para saber que é água com base na curva do gráfico do software. A mesma coisa se for adulterada com o metanol", afirma. O professor diz que há um modelo de equipamento em desenvolvimento que deve ser próximo de R$ 1 mil para detectar. A patente já foi registrada, segundo o educador.
De acordo com o professor, os pesquisadores querem desenvolver também um canudo que muda de cor ao entrar em contato com o metanol.
A criação da tecnologia conta, de acordo com a UEPB, com a colaboração de professores da UFPB (Universidade Federal da Paraíba) e com o financiamento do Governo da Paraíba, por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq).
Os estudos iniciais foram feitos com a cachaça, a fim de detectar se a tradicional bebida consumida na Paraíba estava adulterada com compostos que são característicos da própria produção e, além disso, se foi feita alguma alteração fraudulenta posteriormente, como adição de água ou outro composto.
"Trata-se de um canudo onde haverá uma parte com chumaço de algodão. Na parte superior, tem um agente indicador que vai fazer a colorimetria. Então, quando se pega esse bastão e coloca em contato com a bebida, por capilaridade, ele vai umidificar o algodão e entrar em contato com o agente indicador, e aí vai mudar de cor. Se for metanol, fica rosa. É de forma instantânea, de forma semelhante a um teste de gravidez", afirma Felix Brito.
Neste caso do canudo, é preciso abrir a garrafa, mas seria com um custo mais baixo. No caso da luz infravermelha, não precisa abrir o recipiente, mas o custo é mais elevado.
No sábado (4), os pesquisadores responsáveis pela tecnologia e reitores da UEPB se reuniram, por videoconferência, com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), para discutir a possibilidade de expansão da tecnologia pelo Brasil e o andamento das pesquisas voltadas à identificação de metanol em bebidas alcoólicas.
Um projeto foi enviado pelos pesquisadores para o Ministério da Saúde, que ofereceu apoio, na reunião virtual, para o desenvolvimento das pesquisas. "A ideia é que a gente possa levar essa tecnologia pro país inteiro", diz Brito. "Com base no interesse das autoridades, esperamos que dentro dos próximos 30 a 40 dias, consigamos um impacto considerável para a distribuição desses equipamentos", completa.
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