O segundo domingo de agosto costuma ser marcado por homenagens, abraços apertados e memórias construídas em torno da figura paterna. O Dia dos Pais, além de ser uma data de celebração e afeto, tem uma história curiosa e milenar que atravessa civilizações e continentes — e hoje também serve de convite para refletir sobre o que significa, de fato, ser pai.
Uma homenagem que vem de longe
A primeira referência ao Dia dos Pais remonta a mais de 4 mil anos, na antiga Babilônia. Segundo registros históricos, um jovem chamado Elmesu, filho do rei Nabucodonosor, teria moldado em argila o que seria um dos primeiros cartões de homenagem ao pai — uma forma simbólica de expressar amor e gratidão.
Já na tradição cristã, a data tem forte ligação com o Dia de São José, celebrado em 19 de março. Pai adotivo de Jesus, ele é considerado o modelo ideal de paternidade. Em países como Itália, Espanha e Portugal, o Dia dos Pais acontece nesse dia, em honra ao santo. Em outras nações, como Estados Unidos, França e Chile, a comemoração acontece no terceiro domingo de junho, seguindo influências culturais e comerciais locais. Na Alemanha, a data é móvel e celebrada 39 dias após a Páscoa.
No Brasil, uma criação da publicidade
Por aqui, o Dia dos Pais surgiu em 1953, como uma ação publicitária criada por Sylvio Bhering, então diretor do jornal O Globo e da Rádio Globo. Inspirado no sucesso do Dia das Mães, Bhering propôs uma nova data para homenagear os pais e movimentar o comércio.
A primeira edição brasileira da data foi em 16 de agosto, escolhida por coincidir com o Dia de São Joaquim, pai de Maria e avô de Jesus. O jornal divulgou a novidade com grande destaque: “Será a primeira vez e não será a última”, dizia a manchete da véspera.
Com o passar dos anos, a data passou para o segundo domingo de agosto, mantendo o apelo comercial e facilitando a fixação no calendário, numa lógica similar ao Dia das Mães. Desde então, a comemoração se espalhou por todo o país, ganhando o formato que conhecemos hoje.
A ausência também marca a data
Apesar do clima de celebração, o Dia dos Pais pode ser um momento sensível para muitas famílias. Segundo o Portal da Transparência do Registro Civil, mais de 100 mil crianças são registradas todos os anos no Brasil sem o nome do pai. Em estados como Pará e Maranhão, esse número chega a representar mais de 10% dos nascimentos.
A ausência do nome no registro é, muitas vezes, apenas o reflexo de uma ausência mais profunda: a falta de cuidado, afeto e responsabilidade. Segundo dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), campanhas de reconhecimento de paternidade têm tentado reverter esse cenário, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido.
A paternidade como escolha diária
Felizmente, também existem histórias que ressignificam a data e mostram que ser pai vai muito além da biologia. Pais adotivos, padrastos, tios, avôs e até mães solo que assumem esse papel — todos eles ajudam a construir o verdadeiro sentido da paternidade: o de estar presente, cuidar, acolher e amar.
Ser pai é também romper com estereótipos de dureza e distância. É comparecer à reunião da escola, trocar fraldas, ouvir, conversar, preparar o lanche e participar das descobertas do dia a dia. É, sobretudo, escolher estar. Neste Dia dos Pais, entre presentes e abraços, que o destaque seja para os pais de verdade — os que se fazem presentes, os que acolhem com afeto e responsabilidade, e os que enxergam na paternidade uma construção constante de amor.
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