A Polícia Civil descartou indícios de tentativa de feminicídio no caso do empresário Cléber Lúcio Borges, 55, acusado de espancar a companheira dentro de um elevador no Distrito Federal.
Delegado Marcos Lourdes disse que "em momento nenhum" o caso foi considerado tentativa de feminicídio. Loures disse à reportagem que o empresário interrompeu as agressões. "Isso demonstra que ele não queria matá-la. Ele poderia pisar, pular em cima dela, continuar socando", disse.
O delegado diz que "não pode dar uma classificação indevida". "Tomamos todas as providências para preservar a vida da vítima. Por mais que tenha sido brutal, não dá para dizer que foi uma tentativa de feminicídio."
Na ação, a qual a reportagem teve acesso, empresário é defendido pela Defensoria Pública. O espaço segue aberto para manifestações.
"É muito prematuro descartar linha investigativa", diz advogada especializada em direitos das mulheres. Para Anuska de Castro Schäffer, o empresário não ter buscado a arma não anula uma eventual tentativa de feminicídio: "Vítimas [de feminicídio] são agredidas com facadas, socos e qualquer coisa que está nas mãos da pessoa". A presidente da Comissão das Mulheres Advogadas da OAB-SP, Maíra Recchia, concorda que é cedo para descartar uma possibilidade de enquadramento penal: "Não dá para descartar porque me parece que havia ânimo de matá-la", diz.
Reconhecer tentativas de feminicídio esbarra na resistência das autoridades policiais e judiciais. "É extremamente difícil reconhecer violência doméstica e feminicídio pelas autoridades. Quando sai da relação conjugal, é pior ainda", afirma Anuska. "Nesse caso, a depender do nível da brutalidade, seria possível dar cabo da vida da pessoa, mesmo sem ter tido a intenção."
Descartar tentativa de feminicídio seria "argumento da defesa" em casos como esses, diz advogada. "Temos uma grande dificuldade de as autoridades qualificarem como tentativa de feminicídio", diz Maíra. "Trata-se de uma relativização da violência, uma subjetivação. Isso demonstra o quanto as mulheres são subjugadas e relativizadas como pessoas que possuem direitos e proteção estatal."
Investigação
A mulher foi internada após ter ingerido grande quantidade de medicamento, disse o delegado. "Estou investigando violência psicológica. Esse laudo [médico] vai esclarecer se ela foi internada pelos hematomas ou pelos medicamentos que estaria tomando", afirmou. De acordo com a mãe, ela sofria violências físicas e psicológicas.
O delegado espera receber os laudos médicos. "Vou receber o prontuário, e o IML (Instituto Médico Legal) vai analisar as lesões", disse Lourdes. A mulher teve fraturas no rosto e edemas no corpo, segundo a Polícia Civil. Ela foi internada em um hospital particular do Distrito Federal.
Espencada em elevador
Câmeras de segurança de um elevador registraram a agressão. O agressor é o empresário Cleber Lúcio Borges, de 55 anos. Ele aparece na gravação espancando a companheira, de 34 anos.
A vítima estava na garagem à espera do elevador para subir para o apartamento do casal. Ela foi surpreendida pelo agressor, que saiu do elevador dando socos e cotoveladas. As imagens mostram a mulher tentando se defender. Sem sucesso, ela acaba caindo no chão. O vídeo tem cerca de dois minutos.
O agressor disse que daria "lição" na companheira, disse a mãe da vítima à polícia. Antes de ser agredida, a mulher ligou para uma amiga, disse que estava com medo e perguntou se podia ir para a casa dela. Depois de estacionar o carro, a vítima planejava subir até o apartamento para pegar o cachorro e uma mala, mas foi surpreendida pelo companheiro ao tentar pegar o elevador.
Cléber tinha duas armas de fogo e mais de 500 balas em casa, apesar de não ter autorização para posse de armamentos. A prisão em flagrante foi realizada na manhã de quarta-feira, no endereço comercial do agressor, disse a polícia.
Denuncie
Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie. Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.
Também é possível realizar denúncias pelo número 180 e pelo Disque 100. O primeiro é da Central de Atendimento à Mulher, e segundo apura violações aos direitos humanos. Há ainda o aplicativo Direitos Humanos Brasil e através da página da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania. Vítimas de violência doméstica podem fazer a denúncia em até seis meses.
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