O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta sexta-feira (22) ao STF (Supremo Tribunal Federal) que a minuta de um pedido de asilo direcionada ao presidente da Argentina, Javier Milei, localizada no seu celular, não pode ser considerada uma tentativa de fuga do Brasil ou descumprimento de medidas cautelares.
"Parece claro que um rascunho de pedido de asilo ao presidente argentino, datado de fevereiro de 2024, não pode ser considerado um indício de fuga", afirma documento apresentado pelos advogados de Bolsonaro.
A equipe comandada pelo advogado Celso Vilardi afirma que a minuta do pedido de asilo não poderia justificar uma prisão preventiva do ex-presidente porque não é um "fato contemporâneo" nem a fuga se concretizou.
O documento é uma resposta da defesa de Bolsonaro ao relatório da Polícia Federal que o indiciou pelos crimes de coação e abolição do Estado democrático de Direito. Na quarta-feira (20), o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal) deu 48 horas para a defesa do ex-presidente explicar os possíveis descumprimentos de medidas cautelares e o risco de o ex-presidente fugir do país citados pela PF.
Agora, caberá a Moraes avaliar os argumentos da defesa e decidir se pede manifestação da PGR (Procuradoria-Geral da República). Uma das possibilidades é o ministro agravar a situação de Bolsonaro com eventual prisão preventiva.
No documento, a defesa de Bolsonaro acusa a Polícia Federal de agir de forma política para "desmoralizar um ex-presidente da República", de forma a expor sua vida privada com acusações sobre fatos graves e descabidos.
"O relatório da Polícia Federal só demonstra sua parcialidade e faz lembrar que essa mesma Polícia Federal foi responsável pela triagem de todas as mensagens que foram utilizadas pela acusação no processo penal", diz.
Vilardi e os demais advogados dizem que o objetivo foi alcançado pela PF: "Manchetes no Brasil e no exterior anunciando que o ex-presidente planejou uma fuga. Nada mais falso, mas nada mais impactante, sobretudo há [sic] pouco mais de 10 dias do julgamento".
A Polícia Federal disse que há indício do descumprimento da medida cautelar por ter encontrado uma mensagem de SMS enviada pelo general a Bolsonaro horas após a proibição determinada por Moraes. Não há registro de resposta do ex-presidente.
"É incrível ter que dizer que a inexistência de resposta é o exato contrário de manter contato. Eis porque, impressiona muito mal a tentativa de afirmar que a medida cautelar de 2024 havia sido prontamente descumprida... com o silêncio do ex-presidente", completa.
Segundo a investigação, pai e filho tentaram interferir no processo sobre a tentativa de golpe de Estado em benefício de Bolsonaro, que é réu no Supremo e será levado a julgamento a partir de 2 de setembro. Eles negam.
"[A dupla tentou] Atingir diretamente instituições democráticas brasileiras, notadamente o Supremo Tribunal Federal e, até mesmo, o Congresso Nacional Brasileiro, objetivando subjugá-las a interesses pessoais e específicos vinculados aos réus julgados no âmbito da mencionada ação penal", diz a PF.
Ao cobrar a resposta da defesa do ex-presidente, o ministro do STF apontou como evidências de descumprimento de medidas cautelares, entre outros pontos, diálogos de Bolsonaro com o pastor Silas Malafaia. O líder religioso também teve celular e passaporte apreendidos em operação da Polícia Federal na última quarta.
Para os investigadores, Malafaia incentivou que Bolsonaro descumprisse a proibição sobre uso das redes e o orientou sobre estratégias para a divulgação de conteúdos. O líder evangélico também revisou uma carta do ex-presidente que foi publicada nas redes sociais.
O relatório da PF expôs diálogos em que ele critica o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e xinga o pai devido a uma entrevista em que o ex-presidente chamou o deputado de imaturo.
Os investigadores também afirmaram que Bolsonaro e Eduardo usaram as contas de suas esposas em transações para evitar bloqueios de recursos. Pai e filho utilizaram "diversos artifícios para dissimular a origem e o destino de recursos financeiros, com o intuito de financiamento e suporte das atividades de natureza ilícita do parlamentar licenciado no exterior", segundo a PF.
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