A crise provocada pelo tarifaço de 50% de Donald Trump para o Brasil, justificado pelo que o presidente americano chamou de "caça às bruxas" contra Jair Bolsonaro (PL), abalou as pretensões presidenciais de Tarcísio de Freitas (Republicanos) para 2026.
De um lado, o governador de São Paulo tenta consertar o estrago do episódio mudando seu discurso para os interesses do Estado, o que estremeceu de vez sua relação com o bolsonarismo. De outro, empresários que apostavam em sua candidatura ao Planalto passaram a questionar sua independência do mesmo grupo.
A Folha conversou com aliados do governador, que o veem em uma situação delicada, agravada pelo fato de ele ter experiência política limitada --foi lançado ao Palácio dos Bandeirantes quando era um ministro técnico, da Infraestrutura, pelo então presidente Bolsonaro.
Para eles, Tarcísio deveria ter se mantido afastado da crise, colocando-se à disposição para conversar devido ao peso econômico de São Paulo, responsável por um terço das exportações brasileiras aos Estados Unidos.
Mas o governador decidiu não só atacar Lula em sua primeira manifestação, mas também ir a Brasília encontrar-se com Bolsonaro e procurou ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), como relevou a Folha, com a proposta de liberar o ex-presidente para ir aos EUA negociar com Trump.
Bolsonaro está com o passaporte retido devido ao temor de fuga enquanto enfrenta o julgamento da trama golpista, e a proposta de Tarcísio foi vista como esdrúxula por ministros do Supremo.
Ao menos dois pesos-pesados da economia procuraram pessoas próximas a Tarcísio para questionar sua independência ante o ex-chefe. Queriam saber se, ao apoiá-lo, estariam na verdade elegendo Bolsonaro e sua retaguarda política no centrão.
Com a péssima repercussão da crise, habilmente explorada por Lula ao tachar os bolsonaristas de traidores da pátria, Tarcísio passou a modular o discurso, como se viu em declarações no sábado (12).
Veja entrevista de Tarcísio neste sábado (12) sobre tarifaço
Tem tentado retirar a componente política e focar no interesse das empresas e do agronegócio de São Paulo, que serão duramente afetados se Trump não estiver blefando e as tarifas de importação entrarem em vigor em agosto.
Provando o impossível de sua situação, depois de até ter publicado foto com o boné do movimento ideológico de Trump, Tarcísio com isso desagradou o entorno do seu ex-chefe. Tem sido chamado nas redes mais radicalizadas de "bolsonarista de ocasião", o que igualmente dificulta seus planos eventuais para tentar o Planalto.
Nisso, eles são apoiados pelo chefe do partido deles, o PL, Valdemar Costa Neto --esse interessado no enorme fundo partidário que o voto do grupo proporciona ao eleger parlamentares.
Tarcísio terá de andar sobre esta navalha agora. O cenário, ressalva um de seus aliados mais moderados, é bastante fluido e há muito tempo para as definições acerca da disputa do ano que vem.
Mas na hipótese de a crise entre Lula e Trump escalar, afetando itens de longo prazo que são ofuscados no debate atual pelo déficit do Brasil na relação comercial com os EUA, como os investimentos, o desgaste progressivamente irá enfraquecer o petista.
Bolsonaro não ganhará nada com isso, dado que está colado à iniciativa do americano, mas Lula tem a perder. Em seu favor, a crise dobra a aposta do Planalto num discurso mais agressivo, palanqueiro, desde já.
Nesse cenário, Tarcísio poderá ser poupado do fogo que recebe hoje, com a diluição da crise ao longo do tempo. Mas, como disse um ministro do Supremo ouvido sobre o episódio, estamos no Brasil. Aqui, as semanas duram meses na política.
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