O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem passado por uma série de percalços junto à Justiça desde que foi deflagrada, em fevereiro de 2024, a Operação Tempus Veritatis, com o objetivo de apurar a existência de uma organização criminosa envolvida na tentativa de golpe de Estado de 2022.
No período, o ex-presidente ficou impedido de sair do país, admitiu a possibilidade de pedir asilo, convocou manifestações a favor da anistia e viu crescer no exterior a chance de pressionar o STF (Supremo Tribunal Federal) contra uma condenação.
Ele também disse achar que morreria na prisão, chamou de "malucos" apoiadores que estiveram em acampamentos golpistas incentivados por ele e foi alvo de medidas cautelares como o uso de tornozeleira eletrônica.
Veja a seguir uma cronologia de momentos que marcaram a investigação sobre a tentativa de golpe contra Jair Bolsonaro, que completará 572 dias desde a deflagração da Tempus Veritatis até o julgamento no STF, marcado para começar na terça-feira (2).
- 8.fev.24 - Operação Tempus Veritatis
Bolsonaro e aliados são alvo de operação para investigar a tentativa de golpe. O ex-presidente fica impedido de sair do país e de manter contato com aliados.
A operação foi embasada em material coletado no inquérito das milícias digitais e na delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do político.
- 12.fev.24 - Estadia na embaixada da Hungria
O ex-presidente fica dois dias na embaixada da Hungria em Brasília depois de operação da PF que apreendeu seu passaporte.
Posteriormente, a defesa do político disse que a visita ocorreu apenas no contexto de conversa com autoridades, sem que houvesse tentativa de fuga.
- 25.fev.24 - Manifestação na Paulista
Acuado com as investigações, Bolsonaro reúne milhares de apoiadores na avenida Paulista, em São Paulo, com críticas ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e STF. Ele pede anistia aos ataques golpistas do 8 de Janeiro.
Um projeto no Legislativo abordava o pedido. Depois dele, outros PLs se somaram com brechas que poderiam beneficiar o ex-presidente. O político faria mais atos ao longo do ano.
- 15.mar.24 - Ex-chefe da FAB fala que golpe poderia ter sido consumado
O ex-comandante da Aeronáutica Baptista Júnior afirma em depoimento à Polícia Federal que o golpe teria sido consumado se o então comandante do Exército, general Freire Gomes, tivesse concordado.
- 28.out.24 - Discussão sobre anistia protelada
O então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), decide criar uma comissão especial para analisar o projeto de anistia a golpistas do 8 de Janeiro.
Com a medida, a discussão sobre o projeto volta à estaca zero. A anistia com extensão do perdão a Bolsonaro é vista como projeto central para políticos do PL.
- 13.nov.24 - Explosão em Brasília
Francisco Wanderley Luiz, conhecido como Tiü França, morre ao se explodir em frente ao STF.
Dias depois, o ministro do STF Alexandre de Moraes e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, atrelam o episódio a investigações que envolvem Bolsonaro.
- 19.nov.24 - PF prende militares suspeitos de envolvimento com plano para matar autoridades
São presos os suspeitos de participarem de um plano para matar o presidente Lula (PT), seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), e Moraes.
- 21.nov.24 - Indiciamento da PF
A PF (Polícia Federal) indicia Bolsonaro e mais 36 pessoas pela trama golpista, que teria sido engendrada a partir de diferentes frentes, de ataques ao sistema eleitoral à incitação de militares.
O indiciamento se deu com provas obtidas ao longo de quase dois anos, segundo a PF.
- 28.nov.24 - Bolsonaro admite possibilidade de asilo
Bolsonaro admite a possibilidade de pedir refúgio em embaixada para evitar a prisão. "Embaixada, pelo que vejo na história do mundo, quem se vê perseguido, pode ir para lá", disse.
"Se eu devesse alguma coisa, estaria nos Estados Unidos, não teria voltado." A defesa do político nega que ele tenha, com a frase, admitido a possibilidade de asilo.
- 14.dez.24 - Braga Netto é preso
A PF prende o general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro de Bolsonaro e candidato a vice na chapa derrotada de 2022.
- 7.fev.25 - Bolsonaro defende revogar a Ficha Limpa
O ex-presidente defende a revogação da Ficha Limpa para se beneficiar com a medida. Ele afirma em vídeo nas redes sociais que a lei serve para "perseguir a direita".
A fala conta com suporte na Câmara dos Deputados com proposta de Bibo Nunes (PL-RS) de alterar a legislação.
- 18.fev.25 - PGR faz denúncia
A PGR denuncia Bolsonaro sob acusação de liderar a tentativa de golpe de Estado. Outras 33 pessoas são denunciadas, incluindo 23 militares, 7 deles oficiais-generais.
O ex-presidente é acusado de tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra patrimônio da União, deterioração de patrimônio tombado e participação em uma organização criminosa.
- 20.fev.25 - Ex-presidente se pronuncia sobre denúncia
Em primeira fala pública sobre a denúncia, o político tripudia sobre a possibilidade de ser preso. "O tempo todo [é] 'vamos prender o Bolsonaro'. Caguei para a prisão", diz durante seminário de comunicação do PL.
- 18.mar.25 - Eduardo Bolsonaro anuncia licenciamento
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) anuncia que vai se licenciar do mandato para continuar uma ofensiva nos Estados Unidos contra Moraes.
Ele já havia feito um périplo para conversar com autoridades americanas sobre o caso. A atuação do parlamentar se coaduna com falas públicas do pai, que já falou sobre a necessidade de "ajuda de fora" para alcançar seus objetivos políticos.
- 26.mar.25 - STF recebe denúncia contra Bolsonaro
A Primeira Turma do STF recebe, por unanimidade, a denúncia da PGR e torna réus Jair Bolsonaro e outros acusados de integrar o núcleo central da trama golpista de 2022.
- 28.mar.25 - 'Débora do Batom' vai para prisão domiciliar
A cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, transformada pelo bolsonarismo em símbolo a favor da anistia, é transferida para prisão domiciliar. Ela estava detida em razão de preventiva decretada em março de 2023.
A decisão foi considerada por Bolsonaro um "recuo tático" em razão da crescente pressão por anistia. Débora foi condenada 3 dias antes a 14 anos de prisão em regime fechado pela participação no 8 de janeiro. O ministro Fux foi quem mais divergiu, com pedido de pena de 1 ano e 6 meses.
- 29.mar.25 - "É o fim da minha vida", diz Bolsonaro
O ex-presidente fala à Folha que conversou com auxiliares sobre estado de defesa e sítio. Ele afirma que uma prisão seria o "fim" da sua vida, posicionamento reiterado posteriormente em outras entrevistas.
Pouco tempo depois, ele afirmaria "eu vou morrer na cadeia".
- 6.abr.25 - Nova manifestação por anistia
Bolsonaro faz nova pressão por anistia. A manifestação conta com a presença de sete governadores, dentre eles Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo.
O batom foi um dos símbolos da manifestação, em referência a Débora.
- 9.jun.25 - Cid diz que Bolsonaro 'enxugou' minuta golpista
O delator Mauro Cid afirma em depoimento no STF que Bolsonaro recebeu e editou uma minuta de golpe no fim de 2022.
Segundo o tenente-coronel, o ex-presidente retirou o nome de autoridades que iriam para a prisão, com a exceção de Alexandre de Moraes.
- 10.jun.25 - Interrogatório
Durante interrogatório no STF, Bolsonaro pede desculpas a Moraes por insinuar que o ministro ganhou dinheiro com fraudes eleitorais.
O ex-presidente admite ter estudado "possibilidades" sobre o resultado das eleições de 2022 e chama de "malucos" os apoiadores em acampamentos após o pleito.
- 9.jul.25 - Tarifaço
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impõe sobretaxa de 50% a produtos brasileiros e relaciona a medida ao julgamento de Bolsonaro no STF.
- 18.jul.25 - STF impõe tornozeleira a Bolsonaro
O ex-presidente Jair Bolsonaro é alvo de buscas da PF e de medidas cautelares, como uso de tornozeleira e proibição de usar as redes sociais mesmo por intermédio de terceiros.
Ele passa a ser investigado por crimes como coação e obstrução de Justiça, imputados também a Eduardo Bolsonaro em inquérito sobre a atuação do parlamentar no exterior.
- 21.jul.25 - Eduardo Bolsonaro admite que sabia de possibilidade de tarifaço contra Brasil
Eduardo Bolsonaro, que já vinha atrelando o tarifaço dos EUA a sua ofensiva no exterior, admite que sabia que a sanção poderia ser aplicada ao Brasil.
Ele afirma que as medidas cautelares contra o pai eram previsíveis, haja vista tendência de Moraes de "dobrar a aposta" em momentos de tensão, na opinião do político.
- 24.jul.25 - Moraes nega pedido de prisão, mas diz que Bolsonaro descumpriu regras
O ministro do STF chama de "irregularidade isolada" replicação por Eduardo Bolsonaro de fala do ex-presidente nas redes sociais.
- 30.jul.25 - EUA sancionam Moraes com Lei Magnitsky
Os Estados Unidos sancionam Alexandre de Moraes com a Lei Magnitsky, norma do país voltada a punir estrangeiros violadores dos direitos humanos e acusados de corrupção.
O país diz que o magistrado persegue Jair Bolsonaro e age contra a liberdade de expressão. O uso da Magnitsky contra Moraes é contestado por especialistas como William Browder, incentivador global da lei.
- 4.ago.25 - Moraes decreta prisão domiciliar de Bolsonaro
Moraes decreta a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, alegando que o político descumpriu, durante participação por intermédio de terceiros em manifestações do dia 3 de agosto, medida cautelar que proibia o uso de redes sociais.
As manifestações pediam o impeachment de Moraes e falavam a favor da anistia. Depois da prisão do político, aumentou a pressão de bolsonaristas sobre os dois temas, e parlamentares chegaram a fazer motim na Câmara dos Deputados.
- 20.ago.25 - PF indicia Bolsonaro por obstrução de Justiça
O ex-presidente é indiciado, junto a Eduardo Bolsonaro, por tentativa de obstruir o julgamento sobre a trama golpista. Mensagens com xingamento de Eduardo a Jair são vazadas, e o pastor Silas Malafaia é alvo de busca e apreensão.
A PF afirma que o ex-presidente preparou pedido de asilo para a Argentina.
- 26.ago.25 - Bolsonaro monitorado por policiais
Moraes manda a polícia monitorar 24 horas por dia a casa do ex-presidente. A medida foi considerada necessária para evitar fuga às vésperas do julgamento do golpe, marcado para começar no dia 2 de setembro.
- 2.set.25 - Início do julgamento
O ex-presidente e outros sete réus serão julgados pela Primeira Turma do STF pelos crimes contra a democracia. Estão previstas sessões até o dia 12 de setembro.
Comentários: