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Mórbidas coincidências ou crime com documento falso?
Essas são as dúvidas na cabeça do vigilante Cristian dos Santos Coelho, 40 anos, de São José dos Campos, que está preso desde o final de dezembro do ano passado por ter o mesmo nome de um assaltante que cometeu um roubo em Juazeiro do Norte, no Ceará.
Na época em que o crime foi cometido, em 14 de março de 2007, ambos estavam distantes mais de 2.500 quilômetros.
No entanto, os dois Cristians nasceram em São José dos Campos, o que levantou a suspeita do advogado de defesa do vigilante, Cezar Augusto Trunkl Muniz.
Segundo ele, o Cristian dos Santos Coelho que foi preso em Juazeiro, em 2007, tem o mesmo nome, nasceu na mesma cidade e tem o mesmo nome de pai e mãe do que o vigilante joseense. Mas a data de nascimento é diferente. O vigilante é nove meses mais velho do que o assaltante.
DOCUMENTO FALSO
Com isso, Muniz acredita que o assaltante usou um documento falso, em nome do vigilante, que acabou preso em 28 de dezembro pela Polícia Civil de São José, que cumpriu um mandato de prisão expedido em nome dele.
O lado mais bizarro da história é que, ao contrário do assaltante, que foi liberado em agosto de 2007 por excesso de prazo da prisão provisória, o vigilante segue preso no CDP (Centro de Detenção Provisória) 2 de Guarulhos, para onde foi transferido por trabalhar na área de segurança. O Cristian que roubou no Ceará está foragido.
Muniz move um habeas corpus, com fins de revisão criminal, junto à Justiça do Ceará para liberar o vigilante, que é pai de três filhos e corre o risco de perder o emprego em uma firma de segurança. Ele trabalhava num escola de São José como vigia.
Ele havia sido atropelado em 31 de março de 2007 e teve um traumatismo craniano, chegando a correr risco de morte, segundo a família, mas se recuperou e recebeu alta em 2 de maio. Ou seja, não poderia estar em Juazeiro e São José ao mesmo tempo.
“Documentalmente temos como provar que os Cristians eram diferentes. O que leva a crer que estamos diante de uma mórbida coincidência ou de um caso no qual o Cristian de lá se utilizou de identidade falsa para poder tentar culpar o Cristian daqui. O que me leva a crer que ele [assaltante] deu uma identidade falsa”, disse Muniz.
ERRO DE PROCEDIMENTO
Para o advogado, houve um erro de procedimento das autoridades cearenses que culminou na prisão do vigilante, que nada tinha a ver com o roubo em Juazeiro. A família dele disse que sequer o rapaz saiu do estado de São Paulo uma vez na vida.
“Como pode a mesma pessoa estar no mesmo lugar cometendo crime e internado em São José? Juntamos todas as provas e já está na mão do juiz, que entendeu a situação. Eu, como mãe, só peço Justiça”, disse a mãe do vigilante.
“Quando o Cristian de lá foi preso em flagrante, a Polícia Militar e a Polícia Civil não comprovaram a identidade verdadeira dele. Primeiro perguntaram se ele tinha documento válido, e não tinha em mãos. A polícia de lá, ao invés de fazer o procedimento correto, de coletar as digitais e mandar para o Instituto de Identificação atestar quem era, não fizeram isso. O cara se passou pelo Cristian daqui”, explicou o advogado de defesa.
“O Cristian daqui é ficha limpa. Se ele tivesse passagem anterior, não conseguiria renovar as licenças de atirador e outras que precisa para trabalhar como segurança”, afirmou Muniz, que aguardo o julgamento do habeas corpus “para breve”.
Após conseguir liberar Cristian da prisão e anular a condenação que mancha seu nome, Muniz disse que o passo seguinte será mover uma ação reparatória contra o Estado do Ceará. Mas o trauma não dá para apagar.
“Tem como cancelar e tirar os registros [da condenação]. Mas psicologicamente falando, ficar um dia preso é um trauma e imagina o tempo que ele está, fora que a vida dele ficou suspensa e corre o risco de ser mandado embora”, afirmou o advogado.
Fonte(s): Jcnet
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